sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O bom e velho Lupe

                  O cantor e compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues nasceu em Porto Alegre no ano de 1914 e faleceu em 1974. “Lupe,” como era carinhosamente chamado pelos amigos, legou-nos dezenas de sambas e músicas românticas banhadas de melancolia, descrevendo amores perdidos, traições e saudades. Afirmam os historiadores, que além de utilizar passagens de suas próprias aventuras e desventuras amorosas, que não foram poucas, foi o verdadeiro inventor do termo ultra conhecido por todos nós e batizado de “dor de cotovelo”. Lupicínio nunca morou longe de sua cidade natal adorada, viajou até o Rio de Janeiro e retornou convicto que aqui era o seu paraíso. Teve várias profissões, trabalhou como bedel da Faculdade de Direito da UFRGS, também foi dono de bares, churrascarias e restaurantes, mas nunca ganhou dinheiro com nenhum desses negócios, por que seus clientes eram seus melhores amigos e você sabe... “beber em companhia de amigos nunca deu lucro, no sentido capitalista de se ganhar a vida...”
              Lupicínio foi um boêmio assumido e um fiel torcedor do Grêmio. Seu retrato está lá, na Galeria dos Gremistas Imortais pra quem quiser ver e descobrir caso ainda não saiba, que o cara compôs o hino tricolor lá pelos idos de 1953. Inacreditavelmente além de todas as canções que já conhecemos, existem muitas músicas ainda perdidas ou até inéditas. (Há controvérsias, porque algumas letras, feitas e dada de presente aos amigos, são tratadas como poesia em estado bruto. Todas com certeza, diamantes!)
              A galeria de intérpretes de suas obras é tão vasta, que não vamos citar ninguém, com medo de cometer injustiças. Algumas versões ficaram fantásticas, outras nem tanto, mas nada que se perca o brilho original. Lupicínio Rodrigues foi e continuará sendo sempre a “Nossa verdadeira Felicidade,” por ter existido na terra e nos brindado com sua criatividade sem igual. Muitos já tentaram imitá-lo, outros lhe prestaram homenagens comoventes, mas até hoje, vale lembrar, não se encontrou um cantor, que mereça o título de sucessor legítimo desse gaúcho genial.
              Eu sei o que você está pensando agora. “Felicidade” talvez seja a música mais conhecida de Lupicínio Rodrigues, interpretada por dezenas (ou centenas) de outros artistas famosos. A letra encantadoramente triste. No entanto “Loucura,” essa canção que você vai ler a seguir é poesia pura. Declaração de amor possessivo, intenso. Então leia com todo carinho essa letra em especial, caso ainda não a conheça...
“E aí/Eu comecei a cometer loucura/Era um verdadeiro inferno
Uma tortura/O que eu sofria/Por aquele amor
Milhões de diabinhos martelando/O meu pobre coração que agonizando
Já não podia mais de tanta dor/E aí/Eu comecei a cantar verso triste
O mesmo verso que até hoje existe/Na boca triste de algum sofredor
Como é que existe alguém/Que ainda tem coragem de dizer
Que os meus versos não contêm mensagem
São palavras frias, sem nenhum valor
Oh! Deus, será que o senhor não está vendo isso
Então, porque é que o senhor mandou Cristo
Aqui na terra para semear amor/E quando se tem alguém
Que ama de verdade/Serve de riso pra humanidade
É um covarde, um fraco, um sonhador/Se é que hoje tudo está tão diferente
Porque não deixa eu mostrar a essa gente
Que ainda existe o verdadeiro amor/Faça ela voltar de novo pro meu lado
Eu me sujeito a ser sacrificado/Salve seu mundo com minha dor”.
Régis Mubarak