quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Nise da Silveira - Uma mulher extraordinária



              Nascida na capital Maceió, Estado do Alagoas no ano de 1905 e vindo a falecer no ano de 1999, no Rio de Janeiro, a Médica Psiquiatra Nise da Silveira foi uma mulher mais que extraordinária, (discípula e divulgadora do trabalho do célebre Psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), fundador da Psicologia Analítica e grande estudioso de fenômenos parapsicológicos, com quem chegou a trocar correspondências ao longo da vida), foi também uma das principais vozes a se opor ao confinamento de doentes em hospitais psiquiátricos, ao uso de eletrochoque e de lobotomia, além ser a pioneira na incorporação de animais domésticos, no convívio destes mesmos doentes, como forma de criar vínculo e facilitar a reabilitação e a autoestima.
              Filha de um renomado jornalista, casar-se-ia com um colega de curso de medicina, o sanitarista Mário Magalhães da Silveira, com quem compartilharia a vida e a trajetória brilhante até seu falecimento em 1986. No Rio de Janeiro, para onde ambos fixariam residência em 1927, Nise da Silveira se engajaria no mundo literário e artístico, após ser aos 27 anos de idade, aprovada para desempenhar atividades no Serviço de Assistência a Psicopatias e Profilaxia Mental do Hospital da Praia Vermelha. Durante a Intentona Comunista, (ou popularmente conhecida com Revolta Vermelha de 35, tentativa de golpe contra o Presidente Getúlio Vargas, arquitetada pelo Partido Comunista Brasileiro), seria denunciada por uma colega enfermeira, pelo fato de ter em sua biblioteca livros de cunho marxista, permanecendo no presídio Frei Caneca por 1 ano e meio. Lá conheceria e tornar-se-ia grande amiga do escritor (também alagoano) Graciliano Ramos (1892-1953), autor entre outras preciosidades de obras como: “São Bernardo,” “Memórias do Cárcere,” “Histórias de Alexandre” e “Vidas Secas.”
              Entretanto acabaria por ser afastada do serviço público, por motivos políticos de 1936 a 1944, período que se dedicaria ao estudo da filosofia e seus grandes mestres. Ao ser readmitida no ano de 1944, no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II em Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, retoma sua luta antimanicomial. Devido as suas fortes posições seria transferida a seguir para o serviço de terapia ocupacional, uma atividade (na época) considerada de menor valor pela classe médica. No entanto, aproveitando-se disso, fundaria no ano de 1946 a Seção de Terapêutica Ocupacional, fazendo uma verdadeira revolução. Ao invés de ocupar os pacientes com atividades tipo limpeza, etc e tal, cria ateliês de modelagem e pintura, utilizando-se da arte (hoje conhecida como arte-terapia) como forma de resgatar os doentes e o contato com sua própria realidade. Por volta de 1952 seria a fundadora do Museu de Imagens do Inconsciente, também no Rio de Janeiro, centro de pesquisa e preservação dos trabalhos produzidos por seus pacientes durante a fase de tratamento ou recuperação. (Antes desenvolveria outro projeto intitulado Casa das Palmeiras, espécie de clínica de reabilitação a antigos pacientes de outras instituições psiquiátricas.)
              Entre os anos de 1983 e 1985 o cineasta carioca Leon Hirszman (1937-1987), um dos expoentes do chamado Cinema Novo, realizaria o filme “Imagens do Inconsciente” sobre o trabalho de Nise da Silveira. Em vida também receberia dezenas de títulos, prêmios e condecorações. Foi membro fundadora da Sociedade Internacional de Expressão Psicopatológica de Paris e foi inspiração para a criação de museus, centro culturais e instituições terapêuticas no Brasil e Exterior, como por exemplo o “Centro de Estudos Nise da Silveira de Juíz de Fora (MG),” a “Association Nise da Silveira – Images de L’Inconscient” em Paris (França), o “Museo Attivo delle Forme Inconsapevoli” em Gênova (Itália), entre tantos outros... Sem esquecer-se de que o Centro Psiquiátrico Nacional do Rio de Janeiro, hoje atende pelo nome de Instituto Municipal Nise da Silveira, em homenagem a essa mulher mais que extraordinária.     

Régis Mubarak