Nascida na capital Maceió, Estado
do Alagoas no ano de 1905 e vindo a falecer no ano de 1999, no Rio de Janeiro,
a Médica Psiquiatra Nise da Silveira foi uma mulher mais que extraordinária,
(discípula e divulgadora do trabalho do célebre Psiquiatra suíço Carl Gustav
Jung (1875-1961), fundador da Psicologia Analítica e grande estudioso de
fenômenos parapsicológicos, com quem chegou a trocar correspondências ao longo
da vida), foi também uma das principais vozes a se opor ao confinamento de
doentes em hospitais psiquiátricos, ao uso de eletrochoque e de lobotomia, além
ser a pioneira na incorporação de animais domésticos, no convívio destes mesmos
doentes, como forma de criar vínculo e facilitar a reabilitação e a autoestima.
Filha de um renomado jornalista,
casar-se-ia com um colega de curso de medicina, o sanitarista Mário Magalhães
da Silveira, com quem compartilharia a vida e a trajetória brilhante até seu
falecimento em 1986. No Rio de Janeiro, para onde ambos fixariam residência em
1927, Nise da Silveira se engajaria no mundo literário e artístico, após ser
aos 27 anos de idade, aprovada para desempenhar atividades no Serviço de
Assistência a Psicopatias e Profilaxia Mental do Hospital da Praia Vermelha. Durante
a Intentona Comunista, (ou popularmente conhecida com Revolta Vermelha de 35,
tentativa de golpe contra o Presidente Getúlio Vargas, arquitetada pelo Partido
Comunista Brasileiro), seria denunciada por uma colega enfermeira, pelo fato de
ter em sua biblioteca livros de cunho marxista, permanecendo no presídio Frei
Caneca por 1 ano e meio. Lá conheceria e tornar-se-ia grande amiga do escritor
(também alagoano) Graciliano Ramos (1892-1953), autor entre outras
preciosidades de obras como: “São Bernardo,” “Memórias do Cárcere,” “Histórias
de Alexandre” e “Vidas Secas.”
Entretanto acabaria por ser
afastada do serviço público, por motivos políticos de 1936 a 1944, período que
se dedicaria ao estudo da filosofia e seus grandes mestres. Ao ser readmitida
no ano de 1944, no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II em Engenho de Dentro,
no Rio de Janeiro, retoma sua luta antimanicomial. Devido as suas fortes
posições seria transferida a seguir para o serviço de terapia ocupacional, uma
atividade (na época) considerada de menor valor pela classe médica. No entanto,
aproveitando-se disso, fundaria no ano de 1946 a Seção de Terapêutica
Ocupacional, fazendo uma verdadeira revolução. Ao invés de ocupar os pacientes
com atividades tipo limpeza, etc e tal, cria ateliês de modelagem e pintura,
utilizando-se da arte (hoje conhecida como arte-terapia) como forma de resgatar
os doentes e o contato com sua própria realidade. Por volta de 1952 seria a
fundadora do Museu de Imagens do Inconsciente, também no Rio de Janeiro, centro
de pesquisa e preservação dos trabalhos produzidos por seus pacientes durante a
fase de tratamento ou recuperação. (Antes desenvolveria outro projeto
intitulado Casa das Palmeiras, espécie de clínica de reabilitação a antigos
pacientes de outras instituições psiquiátricas.)
Entre os anos de 1983 e 1985 o
cineasta carioca Leon Hirszman (1937-1987), um dos expoentes do chamado Cinema
Novo, realizaria o filme “Imagens do Inconsciente” sobre o trabalho de Nise da
Silveira. Em vida também receberia dezenas de títulos, prêmios e condecorações.
Foi membro fundadora da Sociedade Internacional de Expressão Psicopatológica de
Paris e foi inspiração para a criação de museus, centro culturais e
instituições terapêuticas no Brasil e Exterior, como por exemplo o “Centro de
Estudos Nise da Silveira de Juíz de Fora (MG),” a “Association Nise da Silveira
– Images de L’Inconscient” em Paris (França), o “Museo Attivo delle Forme
Inconsapevoli” em Gênova (Itália), entre tantos outros... Sem esquecer-se de
que o Centro Psiquiátrico Nacional do Rio de Janeiro, hoje atende pelo nome de
Instituto Municipal Nise da Silveira, em homenagem a essa mulher mais que
extraordinária.
Régis Mubarak