Querido Diário... está chovendo lá fora
e aqui dentro faz um pouquinho de frio. Na minha frente uma caneca (gigante
senão não teria graça) de café com muito açúcar, dois pedaços da legítima cuca
de “quichimia” (senão não seria cuca) e algumas músicas selecionadas do grupo
mexicano Maná e do grupo mineiro Jota Quest (senão não seriam músicas
selecionadas). Ainda “tô de pijaminha do Patolino” (senão não seria pijama) e
“escorregando de preguiça” porque são 05:37 da matina e tenho que trabalhar às
07:30 e tenho aula às 19:30. Lar doce lar somente (retorno) lá pela meia noite
e uns quebrados.
Querido Diário... Também estou morrendo
de saudade dos meus sobrinhos e não tenho escolha, porque estão morando em
outro país e leva uma eternidade para conseguir abraçá-los. Estou precisando de
férias, mas também vai ser descartado, além de ter sido selecionada para
intercâmbio do qual não poderei usufruir, (santa tristeza Batman), porque nos próximos
3 anos praticamente é impossível fugir daqui!
Agora vamos conversar encarando olho no olho!
Será que todos os seus amigos, conhecidos, adicionados e “em especial” inimigos
de plantão querem realmente saber que horas você levanta, toma banho, escova os
dentes ou vai ao banheiro? Será que “ritualisticamente” você precisa fotografar
seu café da manhã, ou seu almoço seu jantar ou o porre com a galera da
sexta-feira? E artisticamente (?!?)
imitar a imbecil da Miley Cyrus com a língua de fora como se fosse mais famosa
do que a Mona Lisa do Da Vinci não é um tanto quanto constrangedor, porque ficará
gravado para posteridade?
Será que realmente acessar as
redes sociais, (não vou citar nenhuma das mil e uma em particular, para não
externar minha preferência ou ao contrário, meu voto de descontentamento), de 3
em 3 minutos não é algo que ultrapassa o limite da sanidade? Tipo fotografar
seu parente doente no hospital com aquela fisionomia de “posso desencarnar
daqui a pouco e você nem se deu conta e continua teclando seu IPhone?” Tipo
fotografar seu colega (mau humor/a conta de luz nas alturas, com dor de
barriga/aquele peixe do findi não me fez bem ou preocupado/cartão de crédito estourado),
no meio de uma pausa para respirar, como se ele realmente estivesse interessado
em ser clicado, apresentando um vasto sorriso amarelado para os pixeis!
Será que “desabafar, twitar,
pitakear, compartilhar, contar essa é minha vida capítulo número 2.315” e hoje:
“eu fiz isso e aquilo e falei com fulano e sicrano e estive naquela esquina e
naquela outra” e fiz selfie até ‘das pulgas do cachorro do vizinho,” que nem
vai com a minha cara, vale a pena tanta exposição? Aliás sobre selfies tenho aversão
assumida: cadê a paisagem ao redor, o visual, o patrimônio histórico, cultural?
Simplesmente eu, eu de novo, eu de novo, eu de novo? Gente... nem a Rainha
Madonna, diva, musa, provável deusa de linhagem Asgardiana se fotografa tanto a
si mesma!!!
É sobre o que as pessoas
realmente precisam saber de você? Pense um pouco amiguinho. São tempos
midiáticos, implacáveis, descartáveis, inconstantes onde valores e ideais se
desmancham no ar, estouram como bolhas de sabão, mas também um tempo precioso
de transição onde estamos sendo testados por algo muito além da nossa
compreensão e raciocínio. Pense um pouco amiguinho. Aquela fotografia no banheiro
na frente do espelho vale mesmo todas as curtidas e comentários? Abrir seu coração contando pra todo mundo (a maioria estranhos
no seu ninho) as mazelas e dores temporárias que lhe afligem, acrescentam algo de
fato ao seu crescimento interior?
Se as redes sociais fossem tão
indispensáveis, substituindo nossos verdadeiros amigos (reais de carne e osso)
ou família, tantas pessoas ao redor do mundo não sofreriam atrocidades, cyberbullying,
trolagem. Não haveria massiva pornografia acessada e distribuída sem dó e suicídios
até incentivados por parte de malucos do outro lado na tela, que você nem
desconfia... os verdadeiros psicopatas que realmente são!
Régis Mubarak