Rabiscarei essas primeiras linhas
citando o fantástico ator, diretor, apresentador e pensador paulistano Antonio
Abujamra (1932-2015) falecido no mês de abril: “Eu tive mais de cem fracassos e para mim não tem a mínima importância.
Para um artista o fracasso e o sucesso são iguais. Os dois são impostores.”
Acrescento ainda outra pérola preciosa de sua autoria: “Embora minha cabeça não tenha mudado, as viagens serviram para que eu
me conhecesse melhor e tomasse um rumo, após perceber que a essência do meu
progresso estava em poder aceitar a minha decadência. Ou seja, progredir até
morrer, porque viver é morrer. E não me arrependo de nada.”
Não vou analisar o contexto ou em
que fases, (etapa/amadurecimento) de sua existência essas afirmações foram
proferidas num ataque verborrágico, traço comum de sua personalidade múltipla,
entretanto apenas compartilho com vocês essas citações. Recentemente perdemos
outras personalidades ímpares que farão enorme falta e talvez nem tenham
deixado sucessores a altura: a cantora, apresentadora e folclorista brasileira Inezita
Barroso (1925-2015), o romancista, artista plástico e intelectual germânico
Günter Grass (1927-2015), o escritor, jornalista e intelectual uruguaio Eduardo
Galeano (1940-2015) e o cantor, compositor e produtor norte americano Ben E
King (1938-2015), autor do mega clássico “Stand by me,” entre outras músicas
tão lindas quanto...
Mas no mês de abril, assim como
acontecerá em maio, em junho, em julho, etc e tal, milhares de pessoas
desaparecerão da face da terra em acidentes de trânsito ou de avião, por culpa
de doenças de todas as categorias (in) classificáveis, por suicídio, depressão,
abandono, assaltos e todo tipo de violência caseira ou vítimas do meio (violência
urbana) em que vivem. Terremotos, afogamentos, picadas de bicho venenoso. Ou
porque sua cota de energia disponível no planetinha simplesmente chegou ao fim!
Milhares de anônimos que não
escreveram grandes livros ou magníficas canções, nem interpretaram Shakespeare
magistralmente, não foram detentores de Prêmios Nobel ou medalhas Olímpicas
também desaparecerão das nossas vidas, pessoas bacanas que ajudaram a construir
a casa de alguém, a alegrar a vida de alguém, serviram de apoio a muitos outros
seres humanos em dias de dificuldades extremas, partilharam pedaços de seu conhecimento
e suas experiências. Abraços, beijos, um pedaço de pizza amanhecida ou casquinhas
derretidas de sorvete. Milhares de pessoas insubstituíveis que deixarão vazios
enormes (buracos negros) na vida de homens e mulheres, como eu e você, que
fomos seus amigos, seus colegas, suas (seus) ex-namoradas (os), mães, pais, avós,
irmãos, irmãs ou esposas e maridos e filhos (as).
Amanhã, depois de amanhã ou nos
meses vindouros, (serve de alento) milhares de crianças, italianas, africanas,
japonesas, palestinas, brasileiras ou indianas estarão nascendo em lares
incríveis, outros nem tantos... Desejadas com amor, outras nem tanto... Saudáveis,
lindas e espertas, outras nem tanto... Um ciclo infinito de nascimento, vida,
morte, renascimento... E de repente me questiono sobre tanta coisa... E sobre nós
dois, eu e você, o que estamos fazendo “realmente bem” em nossas existências?
Já se indagou se daqui 5 anos ou um pouco além
disso, teremos amadurecido o suficiente? Exercitado a mente com sua máxima
potência? Exaurido as possibilidades de apagar mágoas, ressentimentos? Substituídos
ou mesclado momentos de solidão por reflexão? Realmente teremos feito diferença
na vida de alguém? Teremos mais amor ou raiva armazenados no nosso coração ou
no nosso fígado?!? Se estivermos todos vivos seremos mais felizes do que até
então? Teremos sido melhores com os outros ou com nós mesmos? A quantos passos
estaremos de uma vida mais digna e iluminada... enfim... me ajude a pensar... Porque
somos tão imperfeitos... e erramos tanto?!?
Régis Mubarak