terça-feira, 1 de julho de 2014

Verdades em dias de escuridão



              É de Mark Twain (1835-1910), escritor norte americano a seguinte frase: “Uma mentira pode dar a volta ao mundo, enquanto a verdade ainda calça os seus sapatos.” Recorro a ela justamente para atestarmos sua autenticidade, mas principalmente que seu sentido profético em “tempos de teias www” felizmente se esvai... Vivemos dias de escuridão, que são dissipados por guerreiros da verdade. Dias em que mentiras até podem dar a volta ao mundo, mas as verdades estão ao encalço, 2 ou 3 passos atrás...
              Recomendadíssimo, o brilhante livro das jornalistas Valerie Guichaoua e Sophie Radermecker “Julian Assange – O Guerreiro da Verdade” traz de forma não autorizada, mas em minúcias arrebatadoras, a biografia do criador do WikiLeaks. Julian Paul Assange, australiano nascido em 1971 em Townsville, jornalista, ciberativista, hacker, gênio etc e tal, que estudou matemática e física antes de fundar o site WikiLeaks por volta de 2006. Homem do ano pelo jornal francês Le Monde em 2010 e considerado pela Revista Times no ano seguinte, um dos 100 mais influentes do planeta. O livro não deixa de fora nem o pequeno deslize em sua trajetória ascendente de hacker a herói internacional, quando sofre acusação na Suécia por abuso sexual, tendo a Interpol “colocado alegremente” sua ficha na famosa lista de procurados. Mas o tal abuso, não é bem o que parece, levando em consideração a possibilidade de uma de suas supostas vítimas pertencer ao quadro da CIA que há tempos o queria atrás das grades e de boca fechada, acusando-o entre outras coisas de espionagem. (Se fosse extraditado a chance de pegar prisão perpétua tornar-se-ia somente um dos seus inúmeros pesadelos. Porque refrescando a memória, Bradley Manning, soldado americano, analista de inteligência do Exército, apontado como responsável pelo vazamento de informações sigilosas, (que posteriormente assumiria sua homossexualidade e passaria a chamar-se Chelsea Elisabeth Manning), continua preso e praticamente incomunicável na base naval de Quântico-Virgínia.) Em 2012 Assange acaba pedindo socorro a Embaixada do Equador em Londres, onde obtém asilo político. Em 2013 o filme “Quinto Poder” dirigido por Bill Condon, tendo o ator Bennedict Cumberbatch, (o vilão Kahn de Star Trek – Além da Escuridão), tentou transpor para as telas partes da sua vida, baseando-se no livro: “Inside WikiLeaks: My Time With Julian Assange At The World’s Dangerous Website,” de Daniel Domscheit-Berg, o que o deixou furioso, fazendo com que lançasse na sequencia seu próprio documentário intitulado: “Mediastan.”
              Referência no parágrafo anterior, classificando-o de leitura recomendadíssima, a exemplo da obra magnífica do jornalista escocês Andrew Jennings “Jogo Sujo – O Mundo Secreto da FIFA”, que abordei no meu texto: “Certos Livros são de tirar o fôlego,” esse é outro raio fulminante que nos deixa nocauteados e com dificuldade para respirar. São 37 capítulos: sua infância meio nômade, suas aventuras, as maluquices na juventude, as incursões e acusações de “hacking” com a Polícia Federal Australiana literalmente grudada na sua cola. As ideias, as teorias conspiratórias, a incansável busca pela verdade e como nasceu o site WikiLeaks, todas as pessoas que tornaram isso possível, os depoimentos de seus amigos e de seus inimigos, sem rodeios.  A publicação na Internet de milhares de documentos: os prisioneiros de Guantánamo, as encrencas dos Estados Unidos nas Guerras do Iraque e do Afeganistão, os ataques covardes a inocentes civis, os telegramas ultrassecretos e toda uma gama de informações que tiram o sono de qualquer pessoa, minimamente interessada em tornar o Planeta Terra um mundo melhor para seus filhos e os filhos de seus filhos crescerem! A verdade nua rasgando os céus em dias de profunda escuridão!

Régis Mubarak