Hoje Alegrete, município que
chega perto de 100 mil habitantes, localizado a sudoeste do Rio Grande do Sul,
orgulha-se de um de seus filhos mais ilustres, cujo nascimento registra-nos a
história, data de 30 de julho de 1906. Quarto filho de Celso de Oliveira
Quintana (farmacêutico) e Virgínia de Miranda Quintana (dona de casa), além de
um dos maiores poetas brasileiros, desempenhou as atividades de tradutor,
(vertendo para nosso idioma, obras de escritores como o intelectual francês
Marcel Proust (1871-1922), o britânico Graham Greene (1904-1991) e a inglesa
Virgínia Woolf (1882-1941), entre outros) e foi jornalista, integrando a equipe
do jornal Correio de povo de Porto Alegre, no período de 1953 a 1977. Também
trabalhou na Editora Globo, atendeu na Farmácia que pertencia a família e muito
jovem veio morar na capital, ingressando no internato do Colégio Militar, onde
iniciaria incursões literárias, publicando na revista Hyloea. Entretanto não
seguiria carreira militar, ainda que em 1930, permanecesse no Rio de Janeiro
cerca de 6 meses, como voluntário do 7º Batalhão de Caçadores de Porto Alegre,
durante a ascensão de Getúlio Vargas (1882-1954) ao poder.
Sua primeira obra, o livro de
poesias “A Rua dos Cataventos” foi lançado no ano de 1940, pela Editora Globo.
Escreveu maravilhosos livros de poesias: “Sapato Florido/1948,” “Espelho
mágico/1951,” “Apontamento de história sobrenatural/1976,” “Esconderijos do
tempo/1980,” “Baú de espantos/1986” e outros encantadores de histórias infantis
tais como: “Pé de pilão/1968,” “Lili inventa o mundo/1983,” “Sapato
furado/1994.” Participou de Antologias, colaborou com revistas e conquistou
prêmios em concursos. Em vida obteve reconhecimento, inclusive internacional,
mas não ganhou dinheiro com a literatura, residindo à maior parte da vida em
quartos de hotéis.
Em 1976 recebeu a medalha
“Negrinho do Pastoreio” do Governo do Estado. Em 1980, o prêmio Machado de
Assis da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra. (Quintana
tentara ingressar em três oportunidades na Academia, mas não fora eleito. Dizia
não guardar mágoas, mas “vem da boca” do escritor gaúcho Luis Fernando
Veríssimo (1936-) a afirmação definitiva: “Se Mário Quintana estivesse na ABL,
não mudaria sua vida ou sua obra. Mas não estando lá, é um prejuízo para a
própria Academia.”) Em 1981 recebeu o prêmio Jabuti, como personalidade
literária daquele ano e na cidade de Passo Fundo, durante Jornada de
Literatura, receberia emocionante homenagem feita por crianças. No ano de 1982
a UFRGS lhe concedeu o título de Doutor Honoris Causa. E em 1983, após intensa
campanha por parte de fãs e amigos, o governo estadual adquiriu o hotel
Majestic, marco arquitetônico da capital e o transformou em Casa da Cultura
Mário Quintana. Também recebeu títulos de Doutor Honoris Causa pela UNISINOS e
pela PUCRS em 1986 e no ano de 1989 pela UNICAMP e UFRJ. Na Praça da Alfândega
existe monumento retratando-o junto a outro grande poeta, o mineiro Carlos Drummond
de Andrade (1902-1987).
Dono de um talento excepcional,
magia e encantamento com as palavras, assim como uma ironia sem igual, teve
grandes paixões, mas nunca se casou. (Venerava a atriz e poeta Bruna Lombardi
(1952-), derretendo-se a sua frente!) Sua sobrinha Helena, foi quem deu início
a organização de seu acervo. (Mário de Miranda Quintana faleceu no ano de 1994
em Porto Alegre (RS.) Quando inquirido sobre detalhes de sua vida particular
soltava algumas pérolas como essas: (...) “Minha vida está nos meus poemas,
meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma
confissão.” (...) “Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou
modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha
altura.”
Régis Mubarak