terça-feira, 2 de maio de 2017

Um olhar além da alma



               Venho pesquisando o trabalho do cientista Robert Lanza, desde o final de 2015. Magnífico, nada menos que isso. Imensamente perturbador dependendo do seu ponto de vista, sua religião ou da falta dela, principalmente se considerarmos sua efetiva participação nos primeiros trabalhos sobre clonagem de embriões humanos. Sem deixar de citar Ian Stevenson (1918-2007), que por anos foi psiquiatra chefe do departamento de Estudos da Consciência da Universidade de Virgínia, o americano Robert Lanza vai além, explorando as questões do tempo, da morte, da vida após a morte e da consciência, consciente de sua própria atemporalidade num universo sem fim.
               Mas não é especificamente sobre “a teoria do Biocentrismo” e também é sobre ela em certa circunstância, numa madrugada fria do final do mês de abril, que escrevo este texto. Não gosto do inverno. Nunca gostei desde criança, “quando não podíamos ficar soltos ao vento” eu e meu único irmão tipo “cavalos selvagens” desfrutando da liberdade em campo aberto. Antevendo talvez que num futuro não muito distante, ela a liberdade nos seria cerceada, por compromissos inadiáveis, a labuta diária, o excesso de responsabilidades e tantos outros desprazeres que redesenham-nos como adultos.
                Entretanto transcrevo a seguir um pedacinho daquela música sensacional do Djavan que diz que “um dia frio” é:(...) “...um bom lugar para ler um livro/ e o pensamento lá em você/eu sem você não vivo/um dia triste/toda fragilidade incide/e o pensamento lá em você/e tudo me divide.” Traduzindo em bom português inverno só combina com bons livros, café extra forte, música de primeira qualidade, chocolate e queijo derretidos, isso para qualquer pessoa em qualquer idade e lugar. (E um excelente vinho tinto intercalado a intermináveis sessões de paixão e loucura embaixo do cobertor, para maiores de 21 anos de idade no mínimo! Obviamente para aqueles que respondam por seus atos e pagam suas próprias contas no final do mês.)
                  Um momento de total êxtase segundo o pensador de origem germânica Johann Goethe (1749-1832) que: “Na plenitude da felicidade, um dia é uma vida inteira.” Só que o mundo às vezes é cruel além do que precisaria ser, cobrando um preço altíssimo por raros momentos de felicidade plena e por paixões desenfreadas. E se a vida real nos faz sangrar algumas gotas a cada dia, para atingirmos nossos objetivos, nós os comuns mortais, faz sangrar com intensidade imensurável aqueles homens e mulheres, que decidiram corajosamente desvencilhar-se do senso comum, de suas rotinas previsíveis e graças aos fracassos ou sucessos, lutas inglórias e intermináveis batalhas transformaram-se em personagens da história, mitos, lendas ou heróis.
                  Heróis como Leonel Brizola (1922-2004), cujo livro de João Brizola “Minha vida com meu pai Leonel Brizola” com certeza já está no topo da lista das melhores obras que li (num único fôlego, numa única madrugada, mantendo os níveis mínimos de oxigênio para garantir minha sobrevivência), nos últimos cinco anos. Não é um livro didático, nem chapa branca, menos ainda excessivamente tendencioso, porque não se refere exclusivamente ao político, caudilho, líder, guerreiro, mito Leonel Brizola. Trata-se de “um olhar além da alma” escrito por um homem adulto, seu único filho ainda vivo, que precisou buscar na infância, na sua memória afetiva as suas próprias feridas abertas para contar a sua verdade, descrevendo dores essencialmente familiares.
                   Eu estava na fronteira com o Uruguai a trabalho, numa noite muito fria. Ao amanhecer comprei mais dois exemplares: um para meu irmão, uma das pessoas mais importante da minha vida. E o outro, para um grande amigo querido, um ser humano cuja inteligência, determinação e brilhantismo muito acima da média são motivos de  profundo respeito, admiração e carinho. (E graças a sua obstinação e trabalho sério, vem consolidando seu nome como promessa sólida e invejável de figura pública e íntegra.)
              Nos próximos dias retomo minhas pesquisas e leituras dos ensaios do Doutor Robert Lanza, na busca de algumas respostas ou na confirmação daquilo que pra mim é uma certeza definitiva: sim existe vida após a morte. E retornamos infinitas vezes até completarmos o trabalho que a cada existência... possamos ter deixado inacabado.
             Não pode ser diferente, não é justo, não faz sentido viver simplesmente uma vida sem utilidade. Sem experimentar grandes amores. Construir grandes projetos. Concretizar grandes ideais. E se você ler “Minha vida com meu pai Leonel Brizola” de João Brizola, sem sentir a emoção a flor da pele, seus batimentos cardíacos não acelerarem ou derramar gotinhas minúsculas de lágrimas e dor, desculpe a sinceridade: mas você não é um ser humano completo ou seu DNA provavelmente seja de algum alienígena reptiliano ou você nunca viveu uma paixão alucinante! Mas ainda há tempo...

Régis Mubarak  
Graduanda em Gestão Ambiental – UNOPAR. Especialista Técnica em Gestão Contábil – CNEC, Marketing – SENAC e Saúde Pública PMI/UNASUS 
Pesquisadora AVA SARU em Exobiologia e Tecnologia da Informação 
Escreve para Jornais Impressos na Região Sul e Portais de Notícias da Internet