De 2007 até por volta de 2010
(não faz tanto tempo assim), atravessei a região sul várias vezes de mochila
nas costas, ansiedade sufocante, esperança na altura das nuvens sombreadas dos
meses de outono e pouquíssima grana no bolso. Com o único propósito de
apresentar meu currículo ainda bastante minguado naquela época a Jornais e
Portais de Notícias, (alguns que inacreditavelmente não sobreviveriam ao quinto
ano de existência), no desejo de publicar textos engavetados desde a
adolescência.
Já contei em outras oportunidades
algumas raladas que levei, os dissabores, as entrevistas fajutas, maus tratos,
rispidez em algumas circunstâncias, até cantadas de mau gosto. Em outras
situações, conheci pessoas incríveis, que mantenho contato até hoje, homens e
mulheres brilhantes, de uma generosidade quase maternal. Dessas raladas não
guardo mágoas. Eis a frase que todo mundo conhece e me define: “Se não guardo nem dinheiro no bolso, como é
que vou guardar mágoa e rancor?” Simples assim...
Infinitas vezes precisei ficar
dias a mais do que previra, porque alguns diretores desses Jornais ou Portais
insistiam numa segunda ou terceira entrevista e bate papo inútil, numa
enrolação sem precedentes e eu como não tinha sacado “as más intenções,” me
iludia achando que dali sairia contratada direto para no mínimo, a Editoria!
Hoje acho graça de tamanha ingenuidade, mas na época, que angústia, que agonia,
esperar a tal resposta, não conseguia almoçar direito, dormir direito, um drama
de vários capítulos de uma interminável novela mexicana! Não conseguia ligar pra
casa, o sinal de celular uma desgraça, a internet dez vezes pior... nem sinais
de fumaça davam certo!
Entretanto um amigo especial, amizade
forjada justamente num dia de temporal sem precedentes em meio a um
engavetamento de trânsito na serra catarinense, quando passageiros do ônibus (onde
eu estava) ficaram ilhados na rodovia aguardando resgate, (quem não ficara ferido
acabara por socorrer o próximo e interagir numa camaradagem sem comparação), se
“metamorfoseou” voluntariamente num verdadeiro anjo.
Um anjo da guarda, que (quando
conseguia) vinha em meu socorro e, aliás, me presenteou com “abrigos oficiais
da instituição” da qual ainda hoje integra, numa não menos carreira militar
ascendente e justamente por isso “nem sob tortura” posso dizer qual é essa
instituição. E às vezes se deslocava quilômetros para me dar um mega apoio
moral, porque grana sobrando não tínhamos nenhuma! Então íamos para estrada
pegar carona e passeávamos por cidades vizinhas, numa sandice inconsequente: “dois
jovens aspirantes” a um futuro ainda indefinido e uma maturidade deveras longe
de existir.
E ganhávamos carona de todo tipo.
Mentíamos que éramos noivos - tínhamos anéis falsos de compromisso, comprados
de ciganos acampados em Iraí para nos trazer boa sorte - e estávamos numa academia
militar, (eu não, ele sim) e ganhávamos abraços, parabéns, conselhos e desejos
“de um futuro casamento feliz” e muitos almoços grátis! Em churrascarias de
beira de estrada, onde nos deliciávamos ouvindo e aplaudindo músicos amadores,
mariachis cantantes e gaiteiros de boteco, tão bons, mas tão bons, que poderiam
substituir integrantes de Os Serranos ou de Os Monarcas com louvor. Achávamo-nos
“espertos” nessas “desventuras” e nossa felicidade transbordava!
Contudo impregnada na minha essência, a
sensação de finitude eu trouxe comigo para a vida adulta por termos presenciado
dezenas de acidentes de trânsito, muitos sem sobreviventes para contar o que de
fato acontecera. Hoje tenho a certeza absoluta que estradas ligam pessoas e músicas,
emoções. E não importa quem você seja, o que você faz, quanto você ganha, qual
é o seu objetivo de vida, todas as mancadas que deu, as raladas que levou ou “os cartões da mega que acertou,”
externar sentimentos de amizade, afeto, carinho é a maior demonstração de amor
de um ser humano por outro, em qualquer circunstância e lugar. (Paixão e sexo
são outros sentimentos tri diferentes!)
Dias atrás chegando em casa,
depois de uma exaustiva e complicada viagem de trabalho até quase San Tomé na
Argentina, encontrei na caixa de correio, um pacote. Dentro desse pacote, um pen
drive. Dentro desse pen drive, um vídeo. E nesse vídeo caseiro, “uma gravação
artística de uma hoje autoridade militar,” que vive mui distante do meu amado
rincão, tocando seu violão (muito
mal por sinal/desculpa tá/muito mal), ao lado do sua guriazinha
de cinco anos, olhos azuis faiscantes de sapequice e ternura.
Cantavam a música intitulada: “Lá pro quinto distrito” de Volmir Coelho,
que eu não conhecia e
confesso foi a música mais linda que ouvi nesses últimos meses. E eu ouço
músicas 24 horas por dia! Tão linda, tão linda que desisti de recorrer ao dicionário
para enfeitar o texto, transcrevendo um pedacinho de seus encantadores versos: “Abri meus olhos pra dentro/Montado no
pensamento/Cheguei na velha cancela/Que pro ranchito me leva/De onde eu vim já
faz um tempo (...) O campo é a alma da gente/Não morre nem se termina/Cada um
tem sua sina/Somos passado e presente...”
E disponibilizo esse link
para confirmar tudo o que disse, da lindeza dessa
canção, que me apaixonei de imediato. Já o vídeo caseiro do meu Anjo da Guarda,
(hoje grande autoridade/quem diria), deixo registrado lágrimas de doce carinho.
E a saudade do tempo que não volta atrás, quando éramos mais felizes do que
pensávamos que pudéssemos ser. Dois jovens meio doidos, duas criaturas meio sem
noção e sem grana no bolso, mas com coragem suficiente, para arriscar suas vidas
viajando esperançosos “en las carreteras
de las ilusiones perdidas!”
Graduanda em Gestão Ambiental – UNOPAR. Especialista Técnica em Gestão Contábil – CNEC, Marketing – SENAC e Saúde Pública PMI/UNASUS
Pesquisadora AVA SARU em Exobiologia e Tecnologia da Informação
Escreve para Jornais Impressos na Região Sul e Portais de Notícias da Internet