segunda-feira, 17 de abril de 2017

Seu primo ou seu irmão para a vida toda



                 Vou contar essa história omitindo o nome do personagem principal por uma questão de ética, respeito e profunda admiração. Existe uma qualidade fantástica que as pessoas não fazem a mínima ideia, ser parte intrínseca da cultura árabe: estender a mão sem pedir nada em troca. Um amigo árabe vai ser seu primo, ou mais que isso, vai ser seu irmão para vida toda. E esqueça os estereótipos de tudo o que já falaram por aí.

                 Esqueça aqueles arranjos desgraçados de falsas fronteiras, dividindo sírios, libaneses, iraquianos, palestinos, jordanianos e inclusive árabes israelenses, porque felizmente já estamos a um passo dos livros de história serem reescritos. E a verdade meu querido, te omitiram nos bancos escolares! Nenhum regime opressor, escravagista ou que enriquece a custa dos espólios de guerra e da subjugação de nações menos favorecidas vai querer denegrir sua própria imagem. (Aliás, abraço aí pro departamento de marketing, que disso eu entendo, se até o Sartori foi vendido aos gaúchos como “o tiozão do pedaço” e não passava de uma lagartixa infâme, imagina a nível mundial!)

                Também se sucedeu com os povos de matriz africana, tribos, etnias, limites geográficos e laços sanguíneos foram desrespeitados, redesenhados, forjados a ferro e fogo, por guerreiros conquistadores e acima de tudo estrangeiros, que durante séculos invadiram, pilharam e derramaram sangue de milhares de inocentes por cobiça.

                 Mas como ia dizendo, esqueça o estereótipo de todo árabe é terrorista. E por que me perguntarás tu? Ora, ora... eis o exemplo daquele guri, o tal Anders Behring Breivik, que matou 77 pessoas e feriu outras dezenas em julho de 2011, na Noruega, lembra-te? Um loirinho tri bonitinho de olhos claros, boa família escandinava, alta escolaridade e ficha limpa. Cristão o dito, mas totalmente fora da casinha! (Aliás, a denominação “terrorista cristão,” tal a imprensa o descrevera na época é de acabar com o vivente. Se é terrorista óbvio que não pode ser cristão, católico, evangélico, mórmon. Terrorista é um filho do capeta, um típico coisa ruim, encerrada a conversa.)

                    Quem escolheu o Rio Grande do Sul para viver ou convive com o povo gaúcho sabe o real significado da acolhida, do compartilhamento, enfim, mas indo mais em direção à fronteira com a Argentina ou o Uruguai é que se abraça isso com máxima   intensidade possível. Então finalizando o texto, contarei a história que ensaiei lá no primeiro parágrafo dessa nossa prosa, que é mais ou menos assim: seguindo a cartilha médica eu deveria consultar meu oftalmologista a cada dois anos, mas o faço a cada seis meses, não por necessidade, mas por vontade de ouvir histórias incríveis das arábias. E isso me custa 24 horas de viagem, entre ida e volta até a fronteira com a Argentina, saindo da cidade que estou residindo, na região noroeste, um centro em excelência em medicina, aliás, até outra aconchegante cidadezinha do mapa rio-grandense.

                   Não porque seja um grande médico ou me dá algum desconto... Nada disso, passo lá pra dar “um oiii Doutor em meio minuto cravado” e sigo adiante até a “lojinha da seu pai” para almoçar na casa de um quase octogenário brasileiro gaúcho sírio libanês, fluente em vários idiomas, nascido no oriente médio, pai de filhos (as), excelentes profissionais nas atividades que atuam. São almoços que duram até às seis da tarde, daí preciso “voar em direção à rodoviária,” após ouvir histórias incríveis. Também falamos de política, culinária e futebol. E das boas ações, que sempre fez ao longo da vida e continuará fazendo, mas que não são anunciadas aos quatro ventos, nem na rádio nem no jornal local, por não querer “um fila de gente na porta do seu lojinha.”

              Ajudar ao seu próximo não é caridade é nossa obrigação na construção de um mundo melhor. E quem tem um bom amigo árabe sabe, que “consagrados os laços de amizade e os votos de confiança, ele se tornará seu primo ou seu irmão para vida toda e provavelmente... para as próximas vidas também!” 


Régis Mubarak  
Graduanda em Gestão Ambiental – UNOPAR. Especialista Técnica em Gestão Contábil – CNEC, Marketing – SENAC e Saúde Pública PMI/UNASUS 
Pesquisadora AVA SARU em Exobiologia e Tecnologia da Informação 
Escreve para Jornais Impressos na Região Sul e Portais de Notícias da Internet