Vou contar essa história omitindo o nome do
personagem principal por uma questão de ética, respeito e profunda admiração.
Existe uma qualidade fantástica que as pessoas não fazem a mínima ideia, ser parte
intrínseca da cultura árabe: estender a mão sem pedir nada em troca. Um amigo
árabe vai ser seu primo, ou mais que isso, vai ser seu irmão para vida toda. E
esqueça os estereótipos de tudo o que já falaram por aí.
Esqueça aqueles arranjos desgraçados de falsas
fronteiras, dividindo sírios, libaneses, iraquianos, palestinos, jordanianos e
inclusive árabes israelenses, porque felizmente já estamos a um passo dos
livros de história serem reescritos. E a
verdade meu querido, te omitiram nos bancos escolares! Nenhum regime
opressor, escravagista ou que enriquece a custa dos espólios de guerra e da
subjugação de nações menos favorecidas vai querer denegrir sua própria imagem. (Aliás, abraço aí pro departamento de
marketing, que disso eu entendo, se até o Sartori foi vendido aos gaúchos como “o
tiozão do pedaço” e não passava de uma lagartixa infâme, imagina a nível
mundial!)
Também se sucedeu com os povos
de matriz africana, tribos, etnias, limites geográficos e laços sanguíneos
foram desrespeitados, redesenhados, forjados a ferro e fogo, por guerreiros conquistadores
e acima de tudo estrangeiros, que durante séculos invadiram, pilharam e derramaram
sangue de milhares de inocentes por cobiça.
Mas como ia dizendo, esqueça o
estereótipo de todo árabe é terrorista.
E por que me perguntarás tu? Ora, ora... eis o exemplo daquele guri, o tal Anders
Behring Breivik, que matou 77 pessoas e feriu outras dezenas em julho de 2011,
na Noruega, lembra-te? Um loirinho tri bonitinho de olhos claros, boa família
escandinava, alta escolaridade e ficha limpa. Cristão o dito, mas totalmente
fora da casinha! (Aliás, a denominação “terrorista
cristão,” tal a imprensa o descrevera na época é de acabar com o vivente. Se é
terrorista óbvio que não pode ser cristão, católico, evangélico, mórmon.
Terrorista é um filho do capeta, um típico coisa ruim, encerrada a conversa.)
Quem escolheu o Rio Grande
do Sul para viver ou convive com o povo gaúcho sabe o real significado da
acolhida, do compartilhamento, enfim, mas indo mais em direção à fronteira com
a Argentina ou o Uruguai é que se abraça isso com máxima intensidade possível. Então finalizando o
texto, contarei a história que ensaiei lá no primeiro parágrafo dessa nossa
prosa, que é mais ou menos assim: seguindo a cartilha médica eu deveria
consultar meu oftalmologista a cada dois anos, mas o faço a cada seis meses,
não por necessidade, mas por vontade de ouvir histórias incríveis das arábias.
E isso me custa 24 horas de viagem, entre ida e volta até a fronteira com a
Argentina, saindo da cidade que estou residindo, na região noroeste, um centro
em excelência em medicina, aliás, até outra aconchegante cidadezinha do mapa rio-grandense.
Não porque seja um grande médico ou
me dá algum desconto... Nada disso, passo lá pra dar “um oiii Doutor em meio minuto cravado” e sigo adiante até a “lojinha da seu pai” para almoçar na
casa de um quase octogenário brasileiro gaúcho sírio libanês, fluente em vários
idiomas, nascido no oriente médio, pai de filhos (as), excelentes profissionais
nas atividades que atuam. São almoços que duram até às seis da tarde, daí preciso
“voar em direção à rodoviária,” após ouvir histórias incríveis. Também falamos
de política, culinária e futebol. E das boas ações, que sempre fez ao longo da
vida e continuará fazendo, mas que não são anunciadas aos quatro ventos, nem na
rádio nem no jornal local, por não querer “um
fila de gente na porta do seu lojinha.”
Ajudar ao seu próximo não é
caridade é nossa obrigação na construção de um mundo melhor. E quem tem um bom amigo
árabe sabe, que “consagrados os laços de amizade e os votos de confiança, ele
se tornará seu primo ou seu irmão para vida toda e provavelmente... para as
próximas vidas também!”
Régis Mubarak
Graduanda em Gestão Ambiental – UNOPAR. Especialista Técnica em
Gestão Contábil – CNEC, Marketing – SENAC e Saúde Pública PMI/UNASUS
Pesquisadora AVA SARU em Exobiologia e Tecnologia da Informação
Escreve para Jornais Impressos na Região Sul e Portais de Notícias da
Internet