segunda-feira, 27 de abril de 2015

Ser funcionário público não é para qualquer um



              Em quaisquer esferas somente os fortes sobrevivem. Os idealistas sofrem. Os legais adoecem. Os fracos frequentemente surtam sem dó. Os covardes fecham os olhos para não perder vantagens. Os malandros encontram brechas para se beneficiarem. E as imundícias manipulam e se bandeiam para o lado das falcatruas, das sujeiras, do ilícito.

              O início da odisseia? Intermináveis horas de estudo para obter classificação. Sacrifica-se o tempo dedicado a família, ao namoro, ao lazer. Na sequência, a decepção em constatar a quantidade absurda de itens questionados que nunca foram encontrados em apostila alguma. Conferido o gabarito e se aprovado, a ansiedade toma conta à espera da convocação para sucessivas etapas. Quando convocado, não raro precisará recorrer aos parentes ou amigos em conseguir mais dinheiro: exames médicos, exames psicotécnicos e novas viagens de deslocamento. Absolutamente tudo tem razão de ser.

              Na etapa final recebe a confirmação de ser um dos felizes aprovados e um novo momento de angústia terá início, até o dia do chamado quando se dará conta de que de repente... precisará trocar de cidade ou de estado, deixando parte da família para trás por tempo indefinido. Coragem. O desejo de ser útil, de fazer a diferença, de ajudar a construir um novo Brasil jogará por terras quaisquer pensamentos negativos.

              Então assume-se a vaga e descobre-se já nos primeiros dias que os CCs do departamento ganham mais que você, trabalham menos que você, mas vão dar ordens a você, quando não o sacanarem ao descobrirem que não tem e nem pretende ter filiação partidária. Nas semanas seguintes decepcionantes descobertas do tipo computadores cheio de vírus, sem atualizações necessárias e a impressora quase falecendo de inanição. Nos meses posteriores e dependendo da área de atuação aterrorizantes revelações: projetos podem ser sabotados, documentos extraviados, telefones grampeados, colegas transferidos contra vontade e pessoas em quem confiar são espécie em extinção.

              Nos anos vindouros: as rugas redesenham a face, os cabelos ficam ralos, os salários achatam, as responsabilidades aumentam, a população cobra tudo de você e com razão. O apocalipse chega mais cedo do que se imagina. Seus ideais começam a ser golpeados. Doenças psicossomáticas se manifestam. Trairagem e vadiagem se mesclam ao seu lado todos os dias e os tipos ordinários procriam entre si e se proliferam. Seu sindicato se esfalfa para manter os parcos direitos adquiridos e os governantes eleitos ameaçando cortes de verbas, planos de demissão voluntária e atraso de salários.

              Parece o fim do mundo só que não... Porque é quando você enxerga no espelho um ser humano idealista, bacana, inteligente e forte, extremamente forte, capaz de suportar as adversidades, atrocidades, pacotes de maldades e situações de extrema precariedade. Não porque você se acha o melhor ou o escolhido da hora! Mas porque se você lutou e chegou até ali, sobrevivendo para contar essa história é porque seu trabalho é importante, imprescindível, insubstituível, quase uma missão, uma vocação!

             E os governantes democraticamente eleitos são substituído por outros também democraticamente eleitos. CCs não duram a vida toda. Os covardes são escanteados. Os malandros são postos contra a parede e as imundícias são desmascaradas. Em quaisquer esferas somente os fortes sobrevivem e é isso que você precisa ter certeza meu amigo, quando inicia a grande odisseia que é ser um Funcionário Público decente e de verdade!             

         

 Régis Mubarak