Confesso sem
constrangimento algum não ter a fórmula exata para desvendar tal mistério.
Estou diante do notebook, (E se eu dissesse que estamos novamente com queda de
energia elétrica, você acreditaria? Nem eu consigo crer no que vejo, aliás no
que não vejo! Essa constante, oscilante e estressante falta de luz, esgotaria
até a paciência do Dalai Lama, se morasse ele na região noroeste do RS.) Mas...
vamos adiante, tentado buscar no encantamento das palavras soluções mágicas
para nossas crises existenciais ou pelo menos... paliativamente (algo genérico)
que se passe por tal!
Pra começar deixa falar daquele
comercial engraçado, que circula na tv aberta e que numa jogada de marketing
impactante e altamente elucidativa, tenta nos ensinar numa linguagem deslocada
(desbocada inclusive) a “maneira” de se livrar daquilo que não precisamos mais,
não nos faz falta, não nos complementa, passando de móveis antigos a namoradas
(os) descartáveis. Num primeiro momento nossa mente fixa o objetivo
imprescindível de nos fazer revisar o que não nos interessa mais, como eu
disse, não nos complementa, para evitar acúmulos. E nesses tempos de reciclar,
reutilizar e reaproveitar, tudo se encaixa na perfeição contra o hábito do desperdício
de coisas. Só que numa bela manhã de quarta (pode ser segunda, também pode ser
domingo), você acorda disposto a rever essas caixas, recortes, pacotes
estocados em cima do guarda-roupa (ou dentro dele) e outros papéis escondidos
(ou meio perdidos) em gavetas sentimentais da sua existência. E sem querer
criar o maior estardalhaço, celeuma ou crise conjugal, sorrateiramente espera
ficar sozinho, sem ninguém da família por perto, espera até “o totozinho tirar sua
sesta mexicana da tarde de sábado” e decide desapegar sem sofrimento do seu
passado nem tão distante assim...
Parece fácil, necessário,
imprescindível. No comercial de televisão é um “pluf” de “o,o,o,o segundos” e fazendo
as contas, nesses anos que se passaram, você cresceu, estudou, se especializou
em determinada área, viajou, conheceu centenas de pessoas e lugares, amou e
desamou, traiu e foi traído, fez suas mancadas, consertou a maioria das suas
lambanças e desistiu de vários projetos, também concretizou outros tantos. Casou,
descasou, teve 1, 2, 5 ou nenhum número de filhos, casou de novo. Comprou a
casa própria, vendeu, alugou, se mudou. Trocou de moto, de carro, de emprego,
de cidade, talvez até de religião, com certeza de partido político! Entretanto,
e eu tenho plena convicção disso: só não trocou de time de futebol, nem
abandonou um desejo secreto que pretendia realizar ainda antes de bater as
botas. Um sonho secreto, que de tão secreto, nem eu, nem você podemos falar
dele agora. (Pra mim, pra ti, pro nosso melhor amigo, nem pra quem dorme a
noite ao nosso lado, pra ninguém, ninguém, ninguém.)
Então você se dá conta que o parecia
fácil não é nadinha do que parecia ser. Se dá conta, que naquele móvel antigo,
naquela vitrola sem uso ou no relógio da sala, herança do seu bisavó, pedaços
da sua história se encontram divididos, se entrelaçando na sua memória afetiva em
noites de lua cheia ou quando toca no rádio aquela música, que (uau!) marcou (e
como marcou!) momentos da inesquecível primeira grande paixão, e sabe se lá por
que ele ou ela nunca saiu de dentro de você.
Naqueles recortes, naquelas
fotografias e cartas antigas, a emoção disfarçada de saudade, toma forma de
nuvens coloridas e beija-flores cintilantes, flanando em notas musicais ao redor
dos seus olhos. E vem uma vontade maluca de rir e chorar ao mesmo tempo, a soma
das perdas e ganhos, das chegadas e partidas, de não saber realmente a fórmula
exata (se é que existe) de como desvendar tamanho mistério, que é desapegar de
si mesmo, sem sofrimentos... De seguir adiante... numa longa estrada ensolarada
com a convicção de que pouco antes do seu (meu/nosso) “gran finale”, aquele
último desejo/sonho/segredo/secreto será então... definitivamente revelado e
realizado!
Régis Mubarak