segunda-feira, 24 de julho de 2017

O que será que você vai lembrar de mim



              Quando se está diante de Ivan Izquierdo o tempo como o conhecemos deixa de existir. Se transforma num momento único de suavidade, serenidade, satisfação. Suas palavras mescladas naquele inconfundível sotaque espanhol, ainda que o Professor Ivan, argentino nascido em Buenos Aires, filho de pai de origem catalã e mãe de origem croata, tenha se naturalizado brasileiro já há muito tempo, ressoam em nossos ouvidos como notas daquela canção romântica que ficou gravada na nossa memória e nos faz relembrar da primeira paixão infanto-juvenil, quando pensávamos que o amor duraria para sempre e ele não durou, um dia acabou, deixando para trás cartões e fotografias nas gavetas da cômoda e a tal música, que sempre quando a escutamos... nos faz suspirar.

             Mas afinal o que seria da vida sem essas ilusões perdidas? O que seria da vida sem as canções românticas? O que seria da vida sem as chegadas e as despedidas? O que seria da vida sem as memórias do que já passou, do que já fizemos, do que já vivemos? O Médico e Cientista Ivan Antonio Izquierdo não tem todas as respostas a essas e muitas questões filosóficas, existenciais ou a outras tão angustiantes que nos impedem de sermos felizes incondicionalmente, ainda que a felicidade seja a maior das utopias praticamente inalcançável nessa existência terrena. Como ser feliz, quando o mundo parece estar de ponta cabeça? Como ser feliz num país governado por tiranos ou déspotas ou desmiolados ou endemoniados? Como externar felicidade quando seu vizinho ou seu melhor amigo acabou de perder o emprego e também sua dignidade? Ou até mesmo a vontade de viver? Tudo se torna extremamente delicado de ser analisado!

              Pioneiro no estudo da neurobiologia da memória e do aprendizado, influente em várias gerações de Cientistas e membro de inúmeras Academias ao redor do planeta, o Doutor Izquierdo também continua a buscar respostas digamos assim, conclusivas para algumas de suas inquietações em níveis bem mais complexos. Mas há algo em seus olhos, que gostaria de definir como encantador, quando se está diante da sua presença. Não sei se a Ciência ou a Academia me permitiriam utilizar o termo magia, mas não posso buscar no dicionário algo que não compactue com a minha opinião, e é magia sim, eu tive certeza disso ao ouvi-lo dissertar sobre suas pesquisas, seu trabalho e sua trajetória, colocando o Brasil na excelência no campo da neurologia e da neurobiologia.

              Encantamento e magia porque nesse momento ímpar de suavidade, serenidade e satisfação sua afirmativa de que: (...)“...eu sou quem sou, cada um é quem é porque todos nos lembramos de coisas que nos são próprias e exclusivas e não pertencem a mais ninguém,” foge dos mecanismos puramente biológicos dos processos mnemônicos, me fazendo por breves instantes esquecer-me dos efeitos de todos os processos celulares, incluindo a dopamina, serotonina, noradrenalina, a utilização dos fármacos, a neuroquímica, a neurofisiologia e me questionar algo que diz respeito especificamente as minhas próprias memórias afetivas e as pessoas a quem eu realmente amo nessa vida, nessa minha curta existência e passagem por esse frágil planetinha azul: “O que será que você vai lembrar de mim, quando eu não estiver mais aqui?”

            O que você vai lembrar de mim, se eu partir, se eu fugir, se eu me mudar para o Canadá? Ou se eu morrer antes de ti? O que é tão imprescindível, tão insubstituível, tão grandioso que ficará gravado nas recordações de todos os momentos compartilhados? Porque a dor da perda parece que nunca cicatriza? Porque a saudade dilacera tanto? Porque pensar em ti me faz chorar, sofrer a longa distância, se essa distância em tempos high tech é somente um click, um whats, um MSN, um oi, um estou vivo e bem aqui, quase na sua frente! Mas essas memórias são somente minhas, de mais ninguém. Como eu vejo o mundo ao meu redor, esse mundo e quem eu coloco ou tiro de dentro dele! O que eu sinto é exclusivamente o que eu sinto e não o que você sente! Ou você faz? Ou deixa de fazer? Ou ainda vai fazer num futuro que está sendo rascunhado, enquanto escrevo, enquanto penso, enquanto durmo, enquanto preciso escolher e tomar decisões!

            Segundo o Professor Izquierdo (...) “...o conjunto das memórias de cada um determina aquilo que se denomina como personalidade ou forma de ser...” (...) “...e o acervo de memórias de cada um nos converte em indivíduos...” (...) “...procuramos laços, geralmente culturais ou de afinidades e com base em nossas memórias comuns, formamos grupos: comarcas, tribos, povos, cidades, comunidades, países.” Mas se são as emoções e os estados de ânimo os maiores reguladores da aquisição, da formação e da evocação das memórias é o coração então quem comanda o cérebro? É o coração que detém poder sobre os neurônios, as células nervosas onde são constituídas nossas memórias? E se essa transferência de trilhões de informações é feita justamente através dos neurotransmissores, ao mergulharmos na ciência sem floreios, nos depararemos com dendritos, axônios, receptores, sinapses, íons, cátions, ánions, termos tão difíceis e tão difusos de entender para quem não é Médico, Cientista ou Pesquisador nessas áreas, mas fáceis de serem assimilados ao senso comum se traduzidos em palavras chaves tais como: lembrança, saudade, pensamento, ideia, imagem, cheiro, carinho, amor e também, tristeza, ressentimento, mágoa, ódio, humilhação ou dor!

              Segundo o Doutor Ivan Izquierdo (...) “...também vamos incorporando ao longo dos anos mentiras e variações que enriquecem a nossa própria existência...” (...) “...porque a memória dos humanos e dos animais provém de todas as suas experiências e algumas dão prazer e outras são terríveis...” (...) “...ao converter a realidade num complexo código de sinais elétricos e bioquímicos, os neurônios traduzem...” (...) “...há algo de prestidigitação nessa arte que tem o cérebro de fazer memórias, de transformar realidades, conservá-las, às vezes modificá-las e revertê-las ao mundo real.”

               Não posso seguir além do que já escrevi até aqui porque precisaria mergulhar em temas com parkinson, alzheimer, esquizofrenia, depressão, suicídio, estresses pós traumáticos, sonhos ou a falta deles, o esquecimento, papel do inconsciente, o próprio conceito de memória coletiva, as religiões, a filosofia. E afinal o que é a mente? O que é a alma? Porque se confundem entre si? E o espírito? O livre arbítrio? O poder das palavras? Como o trabalho da neurolinguística tem influenciado a sociedade? Porque o limiar da velhice nos assusta tanto? Porque ao chegarmos à plenitude da vida adulta nos tornamos tão céticos, tão frios e ás vezes até insensíveis para as coisas simples e belas?  

              São tantos os mistérios, são tantas as indagações, as dúvidas, os medos, as fobias, as respostas inconclusivas porque somos seres incompletos? Por somos seres imperfeitos? Em processo de evolução contínua? O que será que você vai lembrar de mim? E o que será que vou lembrar de você? O que realmente importa quando formos envelhecendo e passando a limpo a lista interminável de bobagens que fizemos e das pessoas que magoamos e das vezes que não dissemos: “eu te amo” “eu estou aqui” “preciso de ti” “me desculpa” “eu errei” “não vou fazer isso de novo” “fica comigo.”

              Como meu coração reagirá a cada troca de estação, quando eu me sentir mais solitária e as pessoas a quem tanto amo irem desaparecendo ao meu redor? E se eu desaparecer primeiro, quem realmente lembrará de mim e sentirá a minha falta? E se meu cérebro desligar antes de mim e eu perder toda a minha memória principal, o que vai sobrar de recordações, para dizer que estive aqui e fiz realmente alguma diferença?

              Hoje não saberia responder, apenas posso repartir aqui a sensação de êxtase por ter conhecido Ivan Izquierdo e dizer que há várias formas de se apaixonar por alguém e pelo trabalho admirável que faz para tornar o mundo um lugar melhor! O Professor Izquierdo é justamente esse tipo de pessoa que desperta, além das doces memórias afetivas e saudades escondidas, um tipo de amor infanto-juvenil à primeira vista, por ser simplesmente um ser humano único no mundo... único... especial... e insubstituível! 


 Régis Mubarak *  

Graduada Gestão Ambiental/UNOPAR. Especialista Técnica Gestão Contábil/CNEC, Marketing/SENAC e Saúde Pública PMI/UNASUS. Pesquisadora AVA SARU em Exobiologia e Tecnologia da Informação. Escreve para Jornais Impressos na Região Sul e Portais de Notícias da Internet. Também gaúcha, colorada e viciada em café.*