Quando se está
diante de Ivan Izquierdo o tempo como o conhecemos deixa de existir. Se
transforma num momento único de suavidade, serenidade, satisfação. Suas palavras
mescladas naquele inconfundível sotaque espanhol, ainda que o Professor Ivan,
argentino nascido em Buenos Aires, filho de pai de origem catalã e mãe de
origem croata, tenha se naturalizado brasileiro já há muito tempo, ressoam em
nossos ouvidos como notas daquela canção romântica que ficou gravada na nossa
memória e nos faz relembrar da primeira paixão infanto-juvenil, quando
pensávamos que o amor duraria para sempre e ele não durou, um dia acabou,
deixando para trás cartões e fotografias nas gavetas da cômoda e a tal música,
que sempre quando a escutamos... nos faz suspirar.
Mas afinal o que
seria da vida sem essas ilusões perdidas? O que seria da vida sem as canções
românticas? O que seria da vida sem as chegadas e as despedidas? O que seria da
vida sem as memórias do que já passou, do que já fizemos, do que já vivemos? O
Médico e Cientista Ivan Antonio Izquierdo não tem todas as respostas a essas e
muitas questões filosóficas, existenciais ou a outras tão angustiantes que nos
impedem de sermos felizes incondicionalmente, ainda que a felicidade seja a
maior das utopias praticamente inalcançável nessa existência terrena. Como ser
feliz, quando o mundo parece estar de ponta cabeça? Como ser feliz num país
governado por tiranos ou déspotas ou desmiolados ou endemoniados? Como externar
felicidade quando seu vizinho ou seu melhor amigo acabou de perder o emprego e
também sua dignidade? Ou até mesmo a vontade de viver? Tudo se torna
extremamente delicado de ser analisado!
Pioneiro no estudo da neurobiologia da
memória e do aprendizado, influente em várias gerações de Cientistas e membro
de inúmeras Academias ao redor do planeta, o Doutor Izquierdo também continua a
buscar respostas digamos assim, conclusivas para algumas de suas inquietações
em níveis bem mais complexos. Mas há algo em seus olhos, que gostaria de
definir como encantador, quando se está diante da sua presença. Não sei se a Ciência
ou a Academia me permitiriam utilizar o termo magia, mas não posso buscar no
dicionário algo que não compactue com a minha opinião, e é magia sim, eu tive
certeza disso ao ouvi-lo dissertar sobre suas pesquisas, seu trabalho e sua
trajetória, colocando o Brasil na excelência no campo da neurologia e da neurobiologia.
Encantamento e magia
porque nesse momento ímpar de suavidade, serenidade e satisfação sua afirmativa
de que: (...)“...eu sou quem sou, cada um é quem é porque todos nos lembramos de
coisas que nos são próprias e exclusivas e não pertencem a mais ninguém,” foge dos mecanismos puramente biológicos dos processos mnemônicos, me
fazendo por breves instantes esquecer-me dos efeitos de todos os processos celulares,
incluindo a dopamina, serotonina, noradrenalina, a utilização dos fármacos, a
neuroquímica, a neurofisiologia e me questionar algo que diz respeito
especificamente as minhas próprias memórias afetivas e as pessoas a quem eu
realmente amo nessa vida, nessa minha curta existência e passagem por esse
frágil planetinha azul: “O que será que você vai lembrar de mim, quando eu
não estiver mais aqui?”
O que você vai
lembrar de mim, se eu partir, se eu fugir, se eu me mudar para o Canadá? Ou se
eu morrer antes de ti? O que é tão imprescindível, tão insubstituível, tão
grandioso que ficará gravado nas recordações de todos os momentos
compartilhados? Porque a dor da perda parece que nunca cicatriza? Porque a
saudade dilacera tanto? Porque pensar em ti me faz chorar, sofrer a longa
distância, se essa distância em tempos high tech é somente um click, um whats,
um MSN, um oi, um estou vivo e bem aqui, quase na sua frente! Mas essas
memórias são somente minhas, de mais ninguém. Como eu vejo o mundo ao meu
redor, esse mundo e quem eu coloco ou tiro de dentro dele! O que eu sinto é
exclusivamente o que eu sinto e não o que você sente! Ou você faz? Ou deixa de
fazer? Ou ainda vai fazer num futuro que está sendo rascunhado, enquanto
escrevo, enquanto penso, enquanto durmo, enquanto preciso escolher e tomar
decisões!
Segundo o Professor
Izquierdo (...) “...o conjunto das memórias de cada um determina aquilo que se denomina
como personalidade ou forma de ser...” (...) “...e o acervo de memórias de cada
um nos converte em indivíduos...” (...) “...procuramos laços, geralmente
culturais ou de afinidades e com base em nossas memórias comuns, formamos
grupos: comarcas, tribos, povos, cidades, comunidades, países.” Mas se são as emoções e os estados de ânimo os maiores reguladores da
aquisição, da formação e da evocação das memórias é o coração então quem
comanda o cérebro? É o coração que detém poder sobre os neurônios, as células
nervosas onde são constituídas nossas memórias? E se essa transferência de
trilhões de informações é feita justamente através dos neurotransmissores, ao
mergulharmos na ciência sem floreios, nos depararemos com dendritos, axônios,
receptores, sinapses, íons, cátions, ánions, termos tão difíceis e tão difusos de
entender para quem não é Médico, Cientista ou Pesquisador nessas áreas, mas
fáceis de serem assimilados ao senso comum se traduzidos em palavras chaves
tais como: lembrança, saudade, pensamento, ideia, imagem, cheiro, carinho, amor
e também, tristeza, ressentimento, mágoa, ódio, humilhação ou dor!
Segundo o Doutor Ivan Izquierdo (...) “...também vamos
incorporando ao longo dos anos mentiras e variações que enriquecem a nossa
própria existência...” (...) “...porque a memória dos humanos e dos animais
provém de todas as suas experiências e algumas dão prazer e outras são
terríveis...” (...) “...ao converter a realidade num complexo código de sinais
elétricos e bioquímicos, os neurônios traduzem...” (...) “...há algo de
prestidigitação nessa arte que tem o cérebro de fazer memórias, de transformar
realidades, conservá-las, às vezes modificá-las e revertê-las ao mundo real.”
Não posso seguir além do que já
escrevi até aqui porque precisaria mergulhar em temas com parkinson, alzheimer,
esquizofrenia, depressão, suicídio, estresses pós traumáticos, sonhos ou a
falta deles, o esquecimento, papel do inconsciente, o próprio conceito de
memória coletiva, as religiões, a filosofia. E afinal o que é a mente? O que é
a alma? Porque se confundem entre si? E o espírito? O livre arbítrio? O poder
das palavras? Como o trabalho da neurolinguística tem influenciado a sociedade?
Porque o limiar da velhice nos assusta tanto? Porque ao chegarmos à plenitude
da vida adulta nos tornamos tão céticos, tão frios e ás vezes até insensíveis
para as coisas simples e belas?
São tantos os
mistérios, são tantas as indagações, as dúvidas, os medos, as fobias, as
respostas inconclusivas porque somos seres incompletos? Por somos seres imperfeitos?
Em processo de evolução contínua? O que será que você vai lembrar de mim? E o
que será que vou lembrar de você? O que realmente importa quando formos
envelhecendo e passando a limpo a lista interminável de bobagens que fizemos e
das pessoas que magoamos e das vezes que não dissemos: “eu te amo” “eu estou
aqui” “preciso de ti” “me desculpa” “eu errei” “não vou fazer isso de novo” “fica
comigo.”
Como meu coração
reagirá a cada troca de estação, quando eu me sentir mais solitária e as
pessoas a quem tanto amo irem desaparecendo ao meu redor? E se eu desaparecer
primeiro, quem realmente lembrará de mim e sentirá a minha falta? E se meu
cérebro desligar antes de mim e eu perder toda a minha memória principal, o que
vai sobrar de recordações, para dizer que estive aqui e fiz realmente alguma
diferença?
Hoje não saberia responder,
apenas posso repartir aqui a sensação de êxtase por ter conhecido Ivan
Izquierdo e dizer que há várias formas de se apaixonar por alguém e pelo
trabalho admirável que faz para tornar o mundo um lugar melhor! O Professor Izquierdo
é justamente esse tipo de pessoa que desperta, além das doces memórias afetivas
e saudades escondidas, um tipo de amor infanto-juvenil à primeira vista, por
ser simplesmente um ser humano único no mundo... único... especial... e
insubstituível!
Régis Mubarak *
Graduada Gestão Ambiental/UNOPAR. Especialista Técnica
Gestão Contábil/CNEC, Marketing/SENAC e Saúde Pública PMI/UNASUS. Pesquisadora
AVA SARU em Exobiologia e Tecnologia da Informação. Escreve para Jornais
Impressos na Região Sul e Portais de Notícias da Internet. Também gaúcha,
colorada e viciada em café.*