segunda-feira, 3 de julho de 2017

O que dizer e o que não dizer numa hora dessas



              Não raro já atravessei madrugadas respondendo a e-mails, findando trabalhos acadêmicos ou trocando informações essenciais com grupos de pesquisas dos quais faço parte. E assistindo ao que meus amigos virtuais me remetem nas redes sociais nas quais me inscrevi. Entretanto restringi drasticamente minha participação essencialmente a redes e grupos específicos, que julgo úteis para minha formação intelectual, acadêmica e científica. Não é arrogância. É que também existe vida pulsante fora da internet. Coisas como jogar vôlei, pescar, dançar, assistir filmes, ler, rolar na grama com os cachorros, se fingir de monstro do pântano com meus sobrinhos e o mais tri: namorar.

              Mas pode se esquecer de me convidar para selfies do prato de comida, das caminhadas até ali a esquina e “de sei lá o quê” depois da ponte! Tem situação, ocasião, circunstância que não dá para fotografar. O que vale é saborear, tocar, morder, lamber, curtir, guardar na memória. Simples assim! E existem momentos especiais, momentos íntimos que ninguém precisa saber, além de ti e da outra pessoa envolvida. Postar tudo na internet beira a insanidade! Já escrevi isso em “Self, Selfie e Salve-se quem puder” que Eywa, para os gregos Gaia a Mãe Terra, ficaria imensamente feliz se você fosse “mais self e menos selfies!” E estudasse Sócrates e Carl Jung também!

             Aliás sobre as redes sociais, seu poder, sua influência e como as pessoas se perdem totalmente dentro desses emaranhados de teias, foi meu tema de conclusão no curso de Marketing. Fiz uma pesquisa tão profunda, abrangente e intensa que acabei por assinar embaixo sem ressalvas as afirmativas do saudoso filósofo e escritor italiano Umberto Eco (1932-2016) (...) “...o drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia o portador da verdade.” (...) “...e as redes sociais deram voz à legião de imbecis.” Concluído a pesquisa, dispondo de dados estatísticos específicos para chegar a análises conclusivas saltei fora “de quase todos os buracos onde havia me enfiado,” porque mais de 80% era pura perda de tempo, energia e inteligência. Entretanto confesso o mais decepcionante: “encontrar amigos reais” metidos em discussões fúteis, defendendo posições reacionárias em chats ou até pior, agredindo verbalmente outras pessoas, pelo simples fato de discordarem do seu ponto de vista, quando no mundo real, aos olhos da comunidade ao qual estão inseridos passam ilibada imagem de decência, educação e ética! Até hoje não me recuperei desse tremendo choque!

              Como já escrevi em outro texto: “Uma história, muitas versões,” não faço nenhum tipo de julgamento, de quem quer que seja. Há origem para tudo, explicação para tudo, resultado para tudo. Ação e reação e suas múltiplas consequências. Não tenho complexo de vira-latas, de que somos pulguentos e incapazes de nos tornarmos senhores do nosso destino. Ao contrário, somos senhores do nosso destino, do tempo, da história e da nossa existência e podemos nos reconstruir um pouquinho a cada dia, com “muito suor, sangue e lágrimas.” Aliás, puxando de outro texto que escrevi: “Morgan Freeman e eu” a célebre frase de John Kennedy (1917-1963) “Perdoe seus inimigos, mas jamais esqueça o nome deles,” confesso ter um nojinho básico de algumas criaturas, mas nem por isso saio de “bodoque na mão atirando bolinha de mamona” nas orelhas dos cretinos, “porque quem é ruim” como diz o velho ditado popular, “se arruína sozinho!”

             Em alguns quesitos também estou num estágio embrionário da evolução da espécie, cheia de erros, fazendo lambanças e volta e meia escorregando na casca de banana. Não me enquadro no personagem puro, inocente e sem defeitos, então jamais atirarei pedras em alguém, a menos é lógico, que tenha me atirado primeiro. Ou entrarei numa rixa desnecessária, a menos que seja para salvar a minha vida ou a vida do meu melhor (atual) amigo, que aliás, também possui gotas de sangue árabe, indígena e espanhol, e paga (assim como eu) fortuna incalculável para não entrar “na peleja,” mas caso seja forçado, só encerrará o duelo com cadáver estirado ao chão! Ou seja: depois de atravessar o fígado e o coração do desafeto com o florete da legítima esgrima!

               Para arrematar cito o incomparável escritor Ariano Suassuna (1927-2014) deixando derreter toda a minha paixão proporcional a sua estonteante lucidez: (...) “Tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte: o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver.” E sigo inebriada: (...) “...Não sou um otimista, nem pessimista. Os otimistas são ingênuos, e os pessimistas amargos. Sou um realista esperançoso. Sou um homem da esperança. Sei que é para um futuro muito longínquo. Sonho com o dia em que o sol de Deus vai espalhar justiça pelo mundo todo.”  

              São tempos difíceis e estamos navegando em águas turbulentas. São tempos complexos e estamos divagando mais do que meditando. São tempos assustadores, mas imprescindíveis para um novo tempo que virá a seguir! O que dizer e o que não dizer numa hora dessas? Mais do que achaques, ataques virulentos, verborragia excessiva, xingamentos é preciso se conectar com seu eu interior e meditar sobre a sua própria existência útil ou inútil. Se conectar com milhões de neurônios, incluso os adormecidos que ainda não foram realmente aproveitados e agir! Agir em prol da coletividade, com objetivos sólidos. Um por todos e todos por um! Diga não a qualquer tipo de Guerra!

              Porque também esses são tempos fascinantes! Viscerais. Apaixonantes. Um momento único de total crescimento, evolução, mudança de frequência, um verdadeiro salto quântico. Caminhos. Revelações. Transformações. O hiperespaço, a internet, as redes sociais e todos os meios de comunicação, e “novos meios que estão prestes a serem revelados,” são como ouro e pedras de diamantes para quem sabe garimpar o conhecimento inesgotável disponível em todas as suas esferas. Mas pura dinamite, artefato explosivo para quem se perde entre os caminhos e descaminhos, sendo seduzido (e abduzido) pela exposição desnecessária, pelo excesso de narcisismo, hedonismo e outras faces da desconstrução do caráter, da personalidade, da ética ou da sua falta.

              A tecnologia apenas é a ferramenta mais moderna “inventada.” Ou poderia colocar da seguinte forma: “nos cedida” (um tipo de escambo) por raças mais evoluídas, que há séculos fazem intercâmbio nesse planetinha para ser usada da melhor maneira possível. Mas por hoje ficaremos “só” com o termo “inventada!” São ferramentas, volto a enfatizar, instrumentos, meios eficazes de se obter informação sobre tudo e se chegar ao ápice do conhecimento. Conhecimento eu escrevi! Não confunda com educação, cultura e sabedoria em hipótese alguma! E é a sua inteligência, seu poder de decisão e seu desejo de aprender, pesquisar e compartilhar que determinará quais caminhos serão trilhados. Você é o único senhor do seu destino, porque o destino nada mais é do que a construção da sua própria história um dia de cada vez. Sua história escrita por você!



Régis Mubarak *  

Graduada Gestão Ambiental/UNOPAR. Especialista Técnica Gestão Contábil/CNEC, Marketing/SENAC e Saúde Pública PMI/UNASUS. Pesquisadora AVA SARU em Exobiologia e Tecnologia da Informação. Escreve para Jornais Impressos na Região Sul e Portais de Notícias da Internet. Também gaúcha, colorada e viciada em café.*