Falar sobre Paulo Leminski é recordar
com doses homeopáticas de angústia existencial, que temos escondidos na memória
amores mal resolvidos, sentimentos contidos, palavras não ditas, poesias
perdidas e muitas, muitas poesias que ainda não foram escritas e mentimos para
nós mesmos os reais motivos de não sabermos por que.
Professor e tradutor, Paulo
Leminski (1944-1989), descendente de poloneses e africanos, por si só mistura
étnica explosivamente encantadora, viveu tão intensamente quanto escreveu em
suas metáforas os desejos dos corações partidos. E em suas obras, as dores, as
expiações e os infinitos desconcertos da existência humana. Pintando tais
sentimentos com pincéis mui dançantes por entre delicados objetos de cristais.
Paulo Leminski escrevia com a própria
alma. E a alma não nos deixa mentir.
Também músico e letrista, pesquisador
da cultura e língua japonesa, o poeta paranaense dominava idiomas que iam do
francês, inglês, espanhol, grego e latim e não recebeu acolhida e tratamento
dignos. Aos poucos eis que a história tendo por obrigação reescrever-se
reconhece envergonhada que grandes gênios inexplicavelmente em sua passagem
pela terra são maltratados ou ignorados. Recebendo mínimas doses de afeto, como
se invisíveis fossem mesmo ao cruzar esquinas abertas em dias de céu azul.
Leminski não se trata de exceção
a essa regra então. Justamente por isso não listarei interminável ordem
alfabética outros autores, poetas, escritores, pintores, artistas nacionais ou
estrangeiros, etc, etc, etc, que em vida útil, mal tiveram o insuficiente para
sua própria sobrevivência e hoje, passado muitos e muitos anos, assistimos suas
obras de arte, seus livros, seus magníficos trabalhos artísticos serem valorizados
no mercado inacreditavelmente a preços exorbitantes, de dezenas de sacas de
ouro! (Não entrarei no mérito de quaisquer questões.) É sobre Paulo Leminski e
a falta que nos faz que escrevo esse texto, tentando repassar a emoção que toma
conta de mim, a cada linha rabiscada por ele há tempos, que leio, releio e
recomendo de olhos fechados. Simples assim...
Poesia é para mim tão necessária
e essencial como aquela frase do clássico de Antoine de Saint Exupery (1900-1944),
ilustrador (e também aviador francês), autor de vários livros bem bacanas, mas
que todo mundo conhece apenas como o escritor de “O Pequeno Príncipe,” quando a
raposa fala ao jovem protagonista principal (...) “...mas se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás
para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...” O grande
público até hoje reconhece esse livro como um dos maiores clássicos da
literatura infantil, ledo engano, trata-se de uma das maiores histórias sobre
amizade, amor e separações já criada em todos os tempos.
Poesia é tão essencial quanto o
ar que respiramos, porque cativa, porque ao ser escrita nos toca de uma maneira
tão especial, única e profunda, que para cada um terá a significação do momento
em que se encontra. Se extremamente feliz. Se extremamente triste. Oscilante
entre caminhos da dúvida, escolha ou decisões difíceis. É feita só pra ti!
Paulo Leminski dominou como
poucos essa arte de nos fazer respirar a poesia como se respira o ar vital de
cada amanhecer. E ainda que não esteja mais caminhando fisicamente por entre as
outras almas humanas aqui na terra, permanece através de cada uma de suas
excepcionais criações literárias. Um pedacinho de sua essência, de sua
carência, de sua exuberância, do seu sentimentalismo, do seu: “Escrevo. E pronto. Escrevo porque preciso.
Preciso porque estou tonto. Ninguém tem nada com isso. (...) Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?” troca e toca nossas células sanguíneas!
Por que seria então? Porque não
importa o que façamos ou para onde vamos, dentro de cada um de nós bate um
coração cheio de poesia, encharcado de amor para dar, espaçoso de amor para
receber e carregado de sentimentos preciosos para compartilhar, que nunca se
esgota, nunca cessa de existir. Necessita-se intercambiar!
E todas as poesias perdidas. E as
que ainda não foram escritas e provavelmente serão, basta que para tanto tenhamos
coragem de externar sem mágoa, rancor ou vergonha de quem, o que quer seja,
todas as sensações únicas que cada um carrega dentro do seu íntimo, do seu ser,
de sua alma. A nossa história e a nossa memória do que um dia, rabiscamos nos
desejos infantis do que gostaríamos de nos tornar quando virássemos gente
grande. Mas crescemos e nos perdemos solitários de nós mesmos!
Basta o querer. E para o querer,
basta vontade. E a vontade é feita de desejos. E os desejos são feitos de
sonhos. E os sonhos são sonhados, rascunhados metade no cérebro, que traça os planos
e de como poderão ser conquistados e metade no coração, que aceita todos os
desenganos e as malsucedidas tentativas! E mesmo assim não para de bater para
que a Dona Esperança se recomponha, às vezes mui golpeada e se coloque em pé
novamente, voltando a caminhar, nessa longa e infinita estrada chamada vida. Tentando
de novo. E de novo. E de novo. Até que enfim um dia ou perto do nosso fim,
nesse único dia, possamos encontrar o lugar mágico onde se esconde a Dona Felicidade!
Régis Mubarak
Graduanda em Gestão Ambiental – UNOPAR. Especialista
Técnica em Gestão Contábil – CNEC, Marketing – SENAC e Saúde Pública
PMI/UNASUS
Pesquisadora AVA SARU em Exobiologia e Tecnologia da
Informação
Escreve para Jornais Impressos na Região Sul e Portais
de Notícias da Internet