sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Vergonha Nacional



              Nas últimas semanas, assuntos como os desdobramentos das investigações da Operação Lava Jato, que infestaram quase todos os espaços dos noticiários dos meios de comunicação de norte a sul do País, fizeram nosso cérebro superaquecer ao limite do potencial de raciocínio lógico. Não há nessa história (aterradora) uma única situação (ou personagem) que nos induza a rever (ou analisar) tais circunstâncias (fatos, ações, dados), apoiado no índice mínimo na escala da compaixão (ocidental cristã) do tipo bíblico: “todo mundo comete erros e merece ter uma 2º chance.” E ainda que o perdão seja atribuído ao “divino espírito santo,” duvido que haja alguém (criatura ou criador, entidade ou representante oficial-celestial), que se prontifique num futuro próximo, a definitivamente perdoar tal número quantitativo (absurdo) de pecados e pecadores, sujos e malfeitores, corruptos e corruptores.
              A revolta é tamanha, que às vezes sentimos sintomas de uma dor física, (um gosto de nojo que sufoca a garganta), sinais que ultrapassam a linha imaginária das crises existenciais, das divagações filosóficas ou das condições psicossomáticas. Manchas arroxeadas visíveis marcam nossa pele, nosso coração, nosso pensamento comprime nossa consciência. É difícil explicar aos nossos filhos, sobrinhos e netos, tal estágio de sangria a que foram submetidos os cofres públicos e a voracidade dessas hienas, parasitando e se alimentando das vísceras uns dos outros, em todos os escalões e cercanias do poder, dessa espécie de carniça (besta-homem) que se satisfaz a custa de malversação, conluio, insanidade e orgias financeiras.
              Semana passada escrevi sobre um livro mágico de Poesias. E isso, poemas, rimas e versos me encantam e penso sem pestanejar, deveria encantar a todos nós em vários momentos dessa nossa curta existência. Hoje centralizo minhas energias nesse tema espinhoso e fétido, enegrecido por tubos de tintas com validade vencida, que estão ofuscando (eu disse ofuscando, não apagando) as matizes do meu arco íris de sonhos, criatividade e ilusão e a Dona Esperança me confessa por dias, sua exaustão! Sairemos enquanto Nação mais fortalecidos quando essa espécie de Tsunami tiver se dissipado? Sairemos mais amadurecidos, quando tamanha tormenta tiver se esvaído? Sairemos melhores seres humanos dessa experiência coletiva de desamparo e frustação nacional?
              Confesso que a Dona Esperança me confessa por dias, sua confusão mental!  Confesso ansiar por dias futuros antecipados. Ansiar por decisão e aplicação da Justiça em toda sua plenitude e sabedoria. Ansiar por nunca mais passar por tal experiência de se sentir extremamente envergonhada por ser brasileira, imaginando o quanto outras partes do mapa mundi nos olham com misto de superioridade, indignação, incredulidade e pena. Até certa compaixão, de pessoas ingênuas como eu e você, que se sentem felizes em pagar seus impostos religiosamente, respeitar as faixas de segurança, não dirigir alcoolizados, separarem seu lixo nos dias da coleta, ajudarem seus filhos com a lição da escola, pertencerem a algum grupo voluntário de ajuda mutua, serem solidários ao próximo em tempo de intempéries climáticas, nunca deixarem de exercitar seu direito ao voto, acreditando que o tal candidato escolhido honraria a votação das urnas.
              Confesso ansiar por dias futuros antecipados e que neles eu possa resgatar a bandeira verde e amarela e todo simbolismo que ela representa, sem euforia ou ufanismo, mas carregada de orgulho, decência e paixão a flor da pele. E que esses desgraçados que se apropriaram dessa fortuna incalculável que poderia ter sido aplicada em centenas de prioridades emergenciais de norte a sul do País sejam castigados, punidos, execrados. Mas não sou a favor da pena de morte, porque seria simplesmente um verdadeiro presente eliminar assim... essa corja de patifes da face da terra!

Régis Mubarak