Talvez por ser Outubro esse mês sacana,
cheio de segundas intenções, quando o sol desaparece, se esconde e torna a
resplandecer em toda sua majestade, intercalado a imprecisos períodos de chuvas
rápidas e seus respingos casuais, que nos tornamos mais contemplativos e
meditativos. (Tornamos-nos vírgula, melhor esclarecer aos amantes da poesia: há
pessoas que intercalam doses extras de mau humor por quaisquer frivolidades ou puro
egocentrismo, nada a fim de seguir por uma trilha zen... se é que você me
entende, e nesses casos, Outubro passa totalmente despercebido e desperdiçado!)
A australiana Bronnie Ware é a
autora do livro “Antes de partir – Uma
vida transformada pelo convívio com pessoas diante da morte” cujo título
original é: “The Top Five Regrets of
the Dying - A Life Transformed by the Dearly Departing.” Confesso não
ter lido o livro e ainda não tê-lo encaixado nas minhas próximas aquisições do
semestre, (em virtude de outras dezenas esperando na fila), mas de tanto um
amigo falar desse tal livro, fui atrás de informações. Eis que Bronnie é
enfermeira (meu amigo idem, dai surgiu à afinidade, leu a obra e adorou) e
obviamente depois de lidar com todo tipo de experiências relacionadas a pacientes
terminais e doenças sem chances de cura, decidiu dedicar-se a escrita,
compartilhada primeiramente num Blog. Não criarei suspense e digitarei abaixo os
tais 5 pontos ou leiam-se arrependimentos, não necessariamente nesta ordem, listados
por seus pacientes nos difíceis momentos da despedida:
- Gostaria de ter tido coragem de expressar meus sentimentos,
- Gostaria de não ter trabalhado tanto,
- Gostaria de ter mantido contato com meus amigos,
- Gostaria de ter me deixado ser mais feliz,
- Gostaria de ter tido a coragem de viver a vida que eu quisesse, não a
vida que os outros esperavam que eu vivesse...
(Por respeito a sua privacidade não
pedirei que me responda num e-mail amanhã de manhã onde se sentiu mais tocado...
Vou sugerir deixar-se levar pela sonoridade sensual e vibrante de Howard Shore
e Marc Ribot, de preferência “Departed Tango” e fechar os olhos, apreciando
cada segundo dessa música e da sua existência.) E mesmo que pareça descabido
vou citar Hannah Arendt (1906-1975) filósofa alemã (já escrevi artigo sobre ela
em 2008: “Diferença entre os iguais”), quando diz (...) “o pensamento tenta atingir a profundidade, tocar as raízes e no
momento que se ocupa do mal, se frustra porque não encontra nada.” E porque
Hannah Arendt entrou no meio da nossa conversa? Porque recorro a ela quando
leio que gente (?!?) como Rochus Misch (1917-2013) guarda-costas de Hitler
atingiu a idade de 96 anos e Erich Priebke (1913-2013) oficial da SS um século
de vida. O que favoreceu essas criaturas viverem tanto depois de terem
participado como coadjuvantes de um dos capítulos mais repugnantes da história?
A genética? A família que constituíram e os rodeava? Um sopro de divindade do
mal? A falta de resquícios de arrependimento?
E porque incluí esses dois sujeitos
justo agora, você também deve estar se perguntando? Para afirmar o que você já
sabe: todo dia páginas e páginas em branco podem ser reescritas e que se pessoas
destrutivas estão se lixando para a minha e a sua existência e ainda assim, conseguiram
atravessar um século de história, então salvo pacientes de doenças terminais,
vítimas de violência urbana ou atrocidades em tempo de guerras, eu e você podemos
achar nossa trilha zen em qualquer dia do mês de outubro... correndo atrás da
“dona felicidade” (aliás, não coloque essa responsabilidade nos ombros de
ninguém), essa “frágil sementinha...” só você pode plantar e deixar crescer!
Régis Mubarak