terça-feira, 10 de outubro de 2017

A Fortaleza da Solidão




              O antropólogo, político e escritor mineiro Darcy Ribeiro (1922-1997) certa feita cunhou uma frase que considero uma espécie de mantra altamente recomendável para qualquer circunstância de desassossego de uma mente criativa e inquieta: “Mais vale errar se arrebentando do que poupar-se para nada.” Notável em várias áreas de atuação, Darcy Ribeiro deixou legado admirável a gerações futuras e exemplo de vida sem comparativos. Homem corajoso, fiel aos seus princípios, ético e acima de tudo um desbravador de todos os caminhos possíveis no campo da educação ainda que estes, na época que militou, fossem às vezes rascunhos em sua imaginação exuberantemente fértil. Morreu vitimado por um câncer, mas lutou bravamente como só os fortes o fazem até o momento final de sua passagem, para uma nova jornada rumo ao desconhecido.
             Desconhecido esse que cedo ou tarde, em algum dia ímpar de nossa existência nos causará espécie de tormento insustentável, quando passamos a buscar respostas aos grandes enigmas universais. E dentre tantas questões em aberto, talvez uma das mais emblemáticas e perturbadoras seja realmente “Qual é afinal o verdadeiro sentido para a nossa própria existência?” E para essa cruel indagação nos depararemos com milhões de respostas, que formularão milhões de novas perguntas que incidirão em novos questionamentos e assim sucessivamente, indefinidamente, eternamente, tal qual nossa alma prescindi a nossa existência corpórea. Então para fechar esse parágrafo se considerarmos o ponto de vista do Existencialismo Monoteísta a busca pelo sentido da vida deve ser realizado incessantemente! Se considerarmos o ponto de vista do Niilismo a resposta será redondamente um não! E se considerarmos o ponto de vista da corrente do Absurdismo talvez, mas nós nunca descobriremos a resposta definitiva! Se o existencialismo ateu nega a natureza humana, o existencialismo cristão acredita que a essência humana corresponde a um atributo de Deus. Eis que há liberdade de escolhas, somente você mesmo será o único responsável por seus fracassos ou suas vitórias.
             Soren Kierkegaard (1813-1855), Jean Paul Sartre (1905-1980), Simone de Beauvoir (1908-1986), Merleau Ponty (1908-1961), Karl Theodor Jaspers (1883-1969) e Albert Camus (1914-1960) são os expoentes máximos indicados para um estudo mais profundo e detalhadamente envolvente da filosofia existencialista. Entretanto farei uma referência apaixonante ao escritor franco argelino Albert Camus, que sempre condenou ao longo de sua breve existência todas as formas totalitárias de poder, fossem elas de representatividade esquerdista ou de representatividade direitista. Há uma citação sua que nos golpeia ferozmente em nossos dramas de senso de moral ou de justiça: “Não espere pelo juízo final. Ele se realiza todos os dias.” Simples assim... “todos os dias!”
              Porque nascemos e morremos um pouquinho a cada nascer e pôr do sol, nos desprendendo de nós mesmos, da nossa casquinha externa que protege nosso espírito iluminado e criador ou maléfico e destrutivo. Ganhamos, perdemos, sofremos, amamos, compartilhamos, lutamos, conquistamos, nos reinventamos ou nos destruímos uns aos outros. Porque como já escrevi em textos anteriores acredito que o ser humano perfeito ainda esteja na sua fase “mais nobre” do seu “estágio final de rascunho.” E ainda somos rascunho inacabado do projeto magnífico de origem cosmológica universal.
              E isso me remete quase indubitavelmente a “Fortaleza da Solidão” das histórias dos quadrinhos do Superman. Desnecessário descrever cada mínimo detalhe das aventuras fantásticas desse mega super herói nativo do Planeta Kripton, personagem criado pelas mãos habilidosas do desenhista canadense Joe Shuster (1914-1992) e do norte americano Jerry Siegel (1914-1996) no tão distante para nós hoje, ano de 1938. 
              E como o próprio nome diz trata-se de uma Fortaleza, uma Fortaleza Solitária, onde nosso herói busca compreender a si mesmo, sua jornada, seus objetivos, mergulha em seus pensamentos mais íntimos, perde-se e reencontra-se diversas vezes em suas divagações, seus anseios e suas dores, acalenta-se em suas lembranças do planeta natal, decifra o seu próprio inconsciente, tentando mesclar-se ao inconsciente coletivo da humanidade, a qual foi acolhido, pois trata-se de um ser extraterrestre, buscando assim como nós, os frágeis mortais, compreender o real sentido da sua (e da nossa existência) nesse planeta e retorna a superfície, para em constantes atos de bravura salvar a humanidade de seus apuros e às vezes de si mesmo, em descompassos.
             Então recorro mais uma vez ao psiquiatra de origem suíça Carl Gustav Jung (1875-1961) e seu estudo magnífico do inconsciente coletivo. A mente subconsciente que necessita estar interligada com todas as outras mentes ainda que não esteja totalmente consciente disso, a camada mais profunda da psique, o que herdados e que são comuns a todos os seres humanos: o arcabouço de arquétipos, as nossas matrizes.
             Enquanto corroboro sem rodeios a cada linha do trabalho sem precedentes do inconsciente coletivo presenteado por Carl Gustav Jung, me imagino na “Fortaleza da Solidão,” na mente de grandes homens (e mulheres), que ocupam importantes cargos e dão inestimáveis contribuições para o avanço significativo de nossas Cidades, Estados e Nações e são os responsáveis pela tomada de decisões, que podem mudar o destino da humanidade para o bem ou para o mal e para todo o sempre!
            Retomando a citação do meu primeiro parágrafo do insubstituível Antropólogo e Mestre Darcy Ribeiro: “Mais vale errar se arrebentando do que poupar-se para nada,” encerro meu texto referenciando-me a algo, uma situação em especial, que já há muito tempo causou-se significativo impacto na maneira de encarar os descaminhos e as provações que precisamos enfrentar para nos desvencilharmos dessa “condição de rascunho” para a próxima fase de um ser humano mais completo e menos imperfeito.
              Foi especificamente quando o General Eduardo Villas Boas, Comandante do Exército Brasileiro, que vou referenciar com toda admiração e respeito à pessoa que é e ao cargo que ocupa em nossa Nação, afirmou em um vídeo no YouTube ser portador de uma “doença neuromotora de caráter degenerativo” e ao longo desse ano em outras matérias e entrevistas, não se furtou de falar abertamente desse problema de saúde e de como inclusive superou crises de depressão. (Veementemente preciso ressaltar que não darei continuidade a esse texto adentrando em análises políticas sobre questões intervencionistas. Abertamente e sem rodeios tenho posições claras, já defendidas dezenas de vezes em textos anteriormente já publicados: Fora Temer. Volta Lula. E diga não a Intervenção Militar. Simples assim, ficamos entendidos e ponto final!)
              É nos momentos mais profundos de introspecção e solidão que descobrimos como determinados homens (e mulheres) enfrentam os revezes de seu destino, de suas quedas, de suas agruras, de seus infortúnios, de situações complexas e delicadas, o inesperado, o indesejado, o insolúvel, o momento em que é preciso ser maior e mais forte do que tudo, quando “A grandeza de um homem consiste em ser maior que sua própria condição humana,” como bem pontuou Albert Camus em seus incomparáveis escritos literários. O que há além de mim e do céu sobre mim? E o que vem depois?
             Na “Fortaleza da Solidão” de nossas curtas existências, em busca de respostas para o sentido da vida é que descobrimos e diferenciamos meninos de homens. Homens de outros homens. E grandes homens de Super homens, que são fortes o suficiente para enfrentarem sua condição humana seguindo em frente rumo ao desconhecido de cabeça erguida, olhos no horizonte além de onde a vista alcança, esperança no inacreditável, fé no impossível, amor inesgotável e o desejo de não desperdiçar nenhum minuto de suas vidas, até o último instante onde sua luz se apagará para reascender em um outro caminho. Além da compreensão do tão pouco que até aqui conseguimos entender! Além de mim e do céu sobre mim! E do que me espera logo ali, mais adiante, do outro lado!

Régis Mubarak * 
Graduada Gestão Ambiental/UNOPAR. Especialista Técnica Gestão Contábil/CNEC, Marketing/SENAC e Saúde Pública PMI/UNASUS. Pesquisadora AVA SARU em Exobiologia e Tecnologia da Informação. Escreve para Jornais Impressos na Região Sul e Portais de Notícias da Internet. Também gaúcha, colorada e viciada em café.*