domingo, 6 de julho de 2014

Mário Quintana - O Poeta Encantado



              Hoje Alegrete, município que chega perto de 100 mil habitantes, localizado a sudoeste do Rio Grande do Sul, orgulha-se de um de seus filhos mais ilustres, cujo nascimento registra-nos a história, data de 30 de julho de 1906. Quarto filho de Celso de Oliveira Quintana (farmacêutico) e Virgínia de Miranda Quintana (dona de casa), além de um dos maiores poetas brasileiros, desempenhou as atividades de tradutor, (vertendo para nosso idioma, obras de escritores como o intelectual francês Marcel Proust (1871-1922), o britânico Graham Greene (1904-1991) e a inglesa Virgínia Woolf (1882-1941), entre outros) e foi jornalista, integrando a equipe do jornal Correio de povo de Porto Alegre, no período de 1953 a 1977. Também trabalhou na Editora Globo, atendeu na Farmácia que pertencia a família e muito jovem veio morar na capital, ingressando no internato do Colégio Militar, onde iniciaria incursões literárias, publicando na revista Hyloea. Entretanto não seguiria carreira militar, ainda que em 1930, permanecesse no Rio de Janeiro cerca de 6 meses, como voluntário do 7º Batalhão de Caçadores de Porto Alegre, durante a ascensão de Getúlio Vargas (1882-1954) ao poder.
             Sua primeira obra, o livro de poesias “A Rua dos Cataventos” foi lançado no ano de 1940, pela Editora Globo. Escreveu maravilhosos livros de poesias: “Sapato Florido/1948,” “Espelho mágico/1951,” “Apontamento de história sobrenatural/1976,” “Esconderijos do tempo/1980,” “Baú de espantos/1986” e outros encantadores de histórias infantis tais como: “Pé de pilão/1968,” “Lili inventa o mundo/1983,” “Sapato furado/1994.” Participou de Antologias, colaborou com revistas e conquistou prêmios em concursos. Em vida obteve reconhecimento, inclusive internacional, mas não ganhou dinheiro com a literatura, residindo à maior parte da vida em quartos de hotéis.
              Em 1976 recebeu a medalha “Negrinho do Pastoreio” do Governo do Estado. Em 1980, o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra. (Quintana tentara ingressar em três oportunidades na Academia, mas não fora eleito. Dizia não guardar mágoas, mas “vem da boca” do escritor gaúcho Luis Fernando Veríssimo (1936-) a afirmação definitiva: “Se Mário Quintana estivesse na ABL, não mudaria sua vida ou sua obra. Mas não estando lá, é um prejuízo para a própria Academia.”) Em 1981 recebeu o prêmio Jabuti, como personalidade literária daquele ano e na cidade de Passo Fundo, durante Jornada de Literatura, receberia emocionante homenagem feita por crianças. No ano de 1982 a UFRGS lhe concedeu o título de Doutor Honoris Causa. E em 1983, após intensa campanha por parte de fãs e amigos, o governo estadual adquiriu o hotel Majestic, marco arquitetônico da capital e o transformou em Casa da Cultura Mário Quintana. Também recebeu títulos de Doutor Honoris Causa pela UNISINOS e pela PUCRS em 1986 e no ano de 1989 pela UNICAMP e UFRJ. Na Praça da Alfândega existe monumento retratando-o junto a outro grande poeta, o mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).
              Dono de um talento excepcional, magia e encantamento com as palavras, assim como uma ironia sem igual, teve grandes paixões, mas nunca se casou. (Venerava a atriz e poeta Bruna Lombardi (1952-), derretendo-se a sua frente!) Sua sobrinha Helena, foi quem deu início a organização de seu acervo. (Mário de Miranda Quintana faleceu no ano de 1994 em Porto Alegre (RS.) Quando inquirido sobre detalhes de sua vida particular soltava algumas pérolas como essas: (...) “Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão.” (...) “Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura.” 

Régis Mubarak